João Batista nos ensina que os profetas não precisam de uma grande doutrina e eloquência. Ele não é um grande teólogo; possui uma cristologia pobre e rudimentar. Ainda não conhece os títulos mais elevados de Jesus: Filho de Deus, Verbo e nem mesmo o de Filho do homem. No entanto, como consegue sentir a grandeza da unicidade de Cristo! Usa imagens simplíssimas, como camponês. “Eu não sou digno de desatar a correia de suas sandálias” (Lc 3,16). A ponderar por suas palavras, o mundo e a humanidade parecem contidos dentro de uma joeira que Ele, o Messias, segura e agita em suas mãos. Diante dele, decide-se quem permanece em pé e quem cai, quem é grão bom e quem é cascabulho que o vento dispersa.
Em 1992, realizou-se um retiro sacerdotal em Monterrey, no México, por ocasião dos quinhentos anos da primeira evangelização da América Latina. Estavam presentes 1.700 sacerdotes e cerca de 70 bispos. Durante a homilia da Missa de encerramento, eu havia falado da necessidade urgente que a Igreja tem de profecia. Depois da comunhão, houve a oração por um novo Pentecostes realizada em pequenos grupos espalhados pela grande basílica. Eu havia permanecido no presbitério. Em certo ponto, um jovem sacerdote aproximou-se de mim em silêncio, ajoelhou-se diante de mim e, com um olhar que não esquecerei jamais, disse-me: “Abençoe-me, padre, quero ser um profeta de Deus!”. Fiquei comovido, porque via que era movido evidentemente pela graça.
Com humildade, podemos fazer nosso o desejo daquele sacerdote: “Quero ser um profeta para Deus”. Pequeno, desconhecido de todos, não importa, mas que, como dizia Paulo VI, tem “fogo no coração, palavra sobre os lábios, profecia no olhar”.
Do Livro “O Mistério da Palavra de Deus”, Pe. Raniero Cantalamessa
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