
Porque não sois do mundo, porque vos escolhi e apartei do mundo, o mundo
vos odeia (Jo 15, 19).
Que fique bem claro: nós, discípulos de Jesus, não fugimos do
mundo, não nos refugiamos em espaços “assépticos”. Se é verdade que não concordamos
com uma certa maneira se viver o mundo ou no mundo,
apreciamos esse universo e tudo de grande e belo que nele aparece.
Somos cantores dos vestígios de Deus que aparecem nas criaturas todas.
Não somos, é verdade, de um certo mundo, de uma certa mentalidade que exclui o
olhar para as coisas do alto.
Amamos o cosmos, o mundo, as flores. Apreciamos as obras de arte.
Percorremos os corredores dos museus, frequentamos as salas de concerto,
apreciamos as obras de Picasso, Monet ou Di Cavalcanti. Rejubilamos
com a dança, sentimo-nos bem numa festa com comidas requintadas e
sentamo-nos à mesa com gosto para degustar do sabor das comidas e do carinho
dos comensais. Vibramos com todas as descobertas da técnica. Somos
adeptos das novas formas de comunicação. Nada de bom que os homens
inventam nos pode ser estranho. Usufruímos de tudo e gostaríamos de poder
tornar o mundo e a humanidade mais próspera e mais bela. Louvamos a Deus pelas
novas técnicas de tratamento dos males do coração, pelas vacinas, pele trem
bala, pelas novas cores dos tecidos, pelo mundo…
De outro lado, distanciamo-nos de uma certa maneira de viver no
mundo. Não damos nosso aval ao mundo da ganância, do consumismo, a todos
esses que acreditam no deus do dinheiro, no poder, desses que esquecem a
partilha, a luta pela justiça social. Denunciamos com nosso modo de
ser toda competição desonesta, todo enriquecimento injusto, todas as
modalidades de suborno e de corrupção, sobretudo quando são desviados os
recursos públicos para um espertos privilegiados. Usamos dos bens
como empréstimo, vivemos com a abundância dos coisas necessárias.
Se nos tiram alguma coisa que nos pertence não chegamos ao desespero. Não somos
do mundo. Evitamos fazer acepção de pessoas. Não queremos ser
do mundo das aparências, de demonstrações de vaidade que não correspondem à
verdade. Não nos sentimos bem no meio de pessoas que gostam de
aplausos e reconhecimentos pelo pouco bem que fazem…
Somos do mundo e não somos do mundo. “Mas, porque não sois do mundo,
porque vos escolhi e vos apartei do mundo, o mundo por isso vos
odeia”.
Frei Almir Ribeiro Guimarães