No evangelho de Lucas 22,60-62, lemos a seguinte
passagem: «Mas Pedro disse: Homem, não sei o que dizes. Imediatamente, enquanto
ele ainda falava, o galo cantou e o Senhor, voltando-Se, fixou o olhar em
Pedro... E Pedro, saindo, chorou amargamente».
Eu tinha um relacionamento bastante bom com o Senhor. Conversava com Ele, pedia-Lhe coisas, louvava-O, agradecia-Lhe. Mas tinha sempre um sentimento ou sensação inesquecível de que Ele queria que eu olhasse bem no fundo dos Seus olhos... E isto eu não queria. Conversava muito, mas desviava os olhos, cada vez que percebia que Ele estava a olhar para mim. Sim, olhava sempre para outro lado. E eu sabia porquê! Tinha medo. Receava encontrar uma acusação nos olhos d´Ele: algum pecado não arrependido. Mas pensava também poder encontrar, naquele olhar, algum pedido: algo que Ele quisesse de mim.
Um dia, finalmente, juntei toda a minha coragem e
olhei! Não havia acusação alguma. Nem exigência ou pedido. Aqueles olhos
diziam-me, simplesmente: «Eu amo-te!». Nessa altura eu olhei-os ainda mais no
fundo com a persistência de quem procura algo. Nada encontrei, apenas a
mensagem de sempre: «Eu amo-te!». Como Pedro, também eu saí... e chorei.
O canto do pássaro, de Anthony de Mello
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