Algum tempo depois de episódio de Moriá, Abraão
poderia escrever uma carta a Isaac mais ou menos nestes termos:
Bem, querido filho Isaac! Quantas
recordações, quantas lembranças. Ah! Aquele dia… De imediato não
compreendi o que estava acontecendo. Não podia e não queria entender. A voz me
pedia que eu fosse contigo até o Monte Moriá e lá que eu te oferecesse em
sacrifício, o meu filho, o filho da promessa, o filho da minha velhice e
da velhice de Sara. Eu não podia, não queria acreditar. Não era possível que o
Deus que me havia tornado pai quisesse te arrancar de mim… Mas contive
minha resistência. Procurei não mostrar minha estranheza…
Apresentei-me corajoso ao Senhor diante daquela incompreensível solicitação…
Sacrificar meu filho único, o meu Isaac.
Não sei se te recordas dos pormenores… Penso que
não. Mas talvez sim. De manhã bem cedo arrumamos tudo o que era
preciso para o “sacrifício” de meu filho… tu serias
oferecido… Caminhamos três dias, eu, tu e os dois servos… Tive muito tempo para
pensar… Imagina… Não tinha condições de dormir… No terceiro dia de
caminhada vi ao longe o lugar. Não queria que os empregados fossem
conosco. “Esperai aqui com o jumento, enquanto eu e o menino vamos
lá. Depois de adorarmos a Deus, voltaremos a vós”.
Tomei a lenha, o fogo… E a faca. Tu te voltaste
para mim e me fizeste uma terrível pergunta. Nunca esquecerei o tom
ingênuo e inocente de tua voz: “Temos fogo e lenha, mas onde está a vítima para
o holocausto?” Deixei que tua pergunta parasse no ar. Levantei os olhos.
Respirei fundo. Respondi. Será que com toda convicção ou simplesmente
para te responder? “Deus providenciará a vítima para o holocausto, meu
filho”. E tu te calaste. E continuamos a caminhar.
Chegara então o momento mais delicado. Ergui o
altar, coloquei a lenha… e tive que te amarrar como amarramos os cordeiros para
os sacrifícios. Meu Deus! Quanta dor… e teu rosto franzido e teu
choro me penetraram até às dobras de meu interior. Estive no
limite do desespero.
Ergui a mão… E ali compreendi toda a trama daquele
evento. Estava certo que Deus não podia ter querido que eu te
matasse. Ele queria provar até onde ia minha fidelidade. Como nada
recusei ao Senhor, ele me proibiu de erguer a mão contra a obra prima de
seu amor que era tu, meu Isaac.
Naquele momento fiquei sabendo que estávamos sendo
abençoados. Não esqueço as palavras do Senhor: “Juro por mim mesmo, uma
vez que agiste deste modo e não me recusaste teu filho único, eu te
abençoarei e tornarei tão numerosa tua descendência como as estrelas do céu e
as areias da praia do mar”. Graças e mais graças ao Altíssimo.
Isaac, tu és meu querido filho e um sonho de Deus.
Frei Almir Ribeiro
Guimarães
www.franciscanos.org.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário