Temos saudade
de viver num mundo de harmonia. Por vezes nosso interior
experimenta terremotos e turbulências. Temos vontade de dizer com
Paulo: “Quem nos livrará deste corpo de morte” A essa desordem de
nosso coração não é de hoje. A Escritura nos ensina que tudo começou
quando nossos primeiros pais foram tentados pelo inimigo. Adão foge
dos olhos de Deus. Depois da queda não tem mais coragem de encarar o
Senhor. Seu interior se agita e tudo nele se atropela. Sim, o esposo de
Eva, depois de comer do fruto que não podia ser colhido, tendo feito isto por
sugestão da mulher, fica desamparado e some da vista do Senhor.
“Adão, aquele
que plasmei do barro da terra, Adão que recebeste de minhas narinas o
sopro da vida, Adão tu que circulavas pelo Paraíso e me encontravas no cair da
tarde. De repente, desapareceste. Onde estás?”
Adão dá
explicação sem dar explicação. “Ouvi a tua voz no jardim e fiquei com medo
porque estava nu; e me escondi”. O homem não dá a verdadeira
explicação que seria o ter desobedecido a Deus. Na verdade, a nudez de
Adão que, antes do pecado, não era problema passou a ser motivo de
perturbação. Acontecera o pecado e a desordem estava instaurada. O livro
do Gênesis dá a entender que a serpente, o tentador, a partir de então começou
a perturbar a vida de nossos primeiros pais. O Evangelho de Marcos
hoje proclamado vai dizer que Jesus nada tem a ver com Belzebu, o
príncipe dos demônios. Os seus adversários diziam que ele estava possuído
por um demônio, justamente aquele que viera para estabelecer uma luta terrível
contra o inimigo. Desde o deserto, passando pelas coisas da caminhada, e
chegando ao abandono da cruz… Jesus será aquele que não se dobrará ao mal, terá
como alimento fazer a vontade do pai e sendo de condição divina não hesitou em
tomar a condição de servo, não aceitando o ídolo do prestígio. De aniquilamento
em aniquilamento, não tendo uma pedra para reclinar a cabeça, até o
jardim das oliveiras e à colina do Crâneo, Jesus vai vencendo o
inimigo para que com o dom de sua vida o pecado de Adão e o pecado de
cada ser humano pudesse ser perdoado. Para que pudéssemos olhar nos olhos
do Senhor e não nos importamos com nossa nudez, nossa pobreza, na obediência
que se transforma em riqueza.
Paulo lembra
que aquele que ressuscitou Jesus dos mortos, também haverá de ressuscitar
a nós. E lembra: “Mesmo se o nosso homem exterior se vai arruinando,
nossos homem interior, pelo contrário, vai se renovando a cada
dia”. A vida cristã é luta contra a tentação, contra as
solicitações do mal, contra essa proposta que é sempre repetida. “Se
comerdes do fruto da árvore proibida serias como deus”. Os homens de
ontem e de hoje sempre querem ser “deuses” . Quando conseguem seus
intentos precisam correr e buscar um esconderijo para esconder sua nudez….
“Ó homem, onde
estás nesta altura de tua vida? Por que te escondes de mim? Não te
esqueças que no alto da cruz arrancaram minhas vestes, expuseram minha
nudez para que pudesse te vestir da graça. Onde tu estás?”
Frei Almir
Ribeiro Guimarães
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