O livro da
Sabedoria é o último escrito bíblico do primeiro testamento. Seu autor
(ressalvando sempre que o inspirador é o Espírito Divino), é um
piedoso judeu de Alexandria, que se distinguiu não somente pelos seus sólidos
conhecimentos, mas também pela leitura dos acontecimentos humanos pelo prisma
da fé. Suas páginas contém ensinamentos admiráveis. Dentre esses quero destacar
especialmente um trecho, pertencente ao capítulo nono, cujos conceitos batem de
frente com certas posições da modernidade.Tais ideias “modernas” vem confirmar
a convicção da filosofia cristã, de que, uma vez deixado o Ser Eterno na sombra
do esquecimento, a importância do ”homo sapiens” é reduzida a farelo. Deixa de
ser o eixo para se tornar apenas um lance modesto da imensa roda dentada da
criação. Chega-se ao cúmulo de afirmar que o “anthropos” é um grande intruso,
um verdadeiro vilão da natureza. Não entra no esquema. Quando muito, deve
considerar-se com direitos iguais aos dos outros seres.
E nada mais do
que isso. É perda total da autoestima.
O escrito
sapiencial nos apresenta uma humilde oração do representante da raça humana:
“Vosso saber o ser humano modelou para ser rei da criação, que é obra vossa”
(Sab 9, 2). Sem rodeios o autor sagrado considera o homem como rei da criação,
e não apenas mais um na roda da vida. E por ser esse rei da criação, recebeu do
Criador a incumbência de “reger o mundo com justiça, paz e ordem” (Sab 9, 3).
Os ambientalistas com razão reclamam dos abusos e das destruições irreparáveis
da humanidade (em todos os tempos). Basta olhar quantas espécies de animais e
de plantas já desapareceram da face da terra. Sobretudo depois da vigência das
ideias nefastas do primeiro capitalismo. Ainda hoje se pode ver a ganância
irrefreável contra os bens que pertencem a todos. Somos a favor do progresso,
mas como diz a Rio + 20 deve ser um progresso sustentável. O orante do
livro da Sabedoria nos dá a chave do reto agir: “Dá-me o saber, ó Senhor, que
esteja junto a mim no meu trabalho” (Sab 9, 10). Assim a liderança humana será
bem sucedida, e terá a capacidade de cuidar de tudo. O homem é o eixo da
criação.
Dom Aloísio
Roque Oppermann
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