A proximidade do Natal produz efeitos: o
recolhimento expectante acaba por extravasar e o roxo dos paramentos será
trocado pelo róseo no próximo domingo. Algo assim como a fímbria das montanhas
que se vai tornando rosada pela aurora que se avizinha. É o domingo “Gaudete”:
um imperativo latino que se traduz por alegrai-vos! Rejubilai-vos!
Não a alegria mundana, barulhenta, a alacridade das
maritacas no coqueiro. Não a algazarra artificial produzida à custa de álcool e
de drogas. Mas o “gáudio”, o “gozo”, a “letícia” íntima e profunda que só o
Deus da vida pode dar. Ainda que, invadidos pela alegria, nós nos
descontrolemos a ponto de “saltar, gritar e dançar” (Is 35,2)...
Eis o comentário de Urs von Balthasar: “Isaías
descreve a transformação do deserto em região fértil com a vinda de Deus.
“Vede! Eis o vosso Deus!” O deserto é o mundo que Deus ainda não visitou, mas
agora Deus está vindo. O homem é cego, surdo, coxo, mudo, quando Deus ainda não
o visitou, mas agora os sentidos se abrem e os membros se soltam”.
E a visita de Deus realiza uma libertação sem
limites: “Os ídolos que eram adorados em lugar do Deus vivo, também eles eram
como o descrevem os Salmos e os livros sapienciais: cegos, surdos, coxos e
mudos, e seus adoradores a eles se assemelhavam. Estes se haviam desviado do
Deus vivo, mas agora “regressam os redimidos de Yahweh” (v. 9): eles estão
libertados da morte espiritual e renascem para a verdadeira vida”.
Por que a cidade permanece tão triste? Por que o
planeta dos homens ainda “geme como em dores do parto”? (Cf. Rm 8,22) Por que
ainda cavam cisternas que não podem reter a água, enquanto a fonte das águas
vivas permanece todo tempo à sua disposição?
Com o Natal tão próximo, voltemo-nos para a fonte
da alegria. O pequeno presépio – o boi e o burro são testemunhas! – nos ensina
que a alegria é simples. Tão simples como um recém-nascido nos braços de sua
mãe. Mas a luz que dele se irradia afasta toda treva e anuncia que Deus se
compadeceu de seu povo e vem inaugurar uma era nova de paz para todos os
homens.
É esta a nossa alegria?
Orai sem cessar: “Em vós, Senhor, eu estremeço de
alegria!” (Sl 9,3)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade
Católica Nova Aliança.
Nenhum comentário:
Postar um comentário