“Com quem vou comparar esta geração? São como
crianças sentadas nas praças, que gritam para os colegas, dizendo: ‘Tocamos
flauta e vós não dançastes. Entoamos lamentações e vós não batestes no peito!’"
Na Sagrada Escritura, a mesma imagem pode ter valor
positivo ou negativo. É o caso do “fermento” – em geral, com valor negativo (Ex
12,15; Mt 16,6), conotando corrupção e pecado, mas também usado por Jesus como imagem
do Reino de Deus que cresce em silêncio, sem sinais exteriores (cf. Mt 13,33).
Neste Evangelho, são as crianças – que Jesus
apontara como ideal a ser imitado (cf. Mc 10,15; Lc 10,21) – a imagem dos
discípulos imaturos que vivem entre queixas e reclamações, como os judeus do
tempo de Jesus, que recusavam ao mesmo tempo o Batista, por sua vida sóbria e
ascética, e a Jesus de Nazaré, por gostar da boa mesa e de um bom vinho. Ainda
hoje, nas paróquias e comunidades, há “crianças” eternamente insatisfeitas.
Criticam o padre que celebra a missa muito depressa, mas reclamam do outro que
faz a missa comprida. Fazem críticas se o padre não prega, manifestam seu
desagrado se a homilia se estende. Se o coordenador é exigente, brotam queixas;
se ele é democrático, cobram mais rigidez. Crianças insatisfeitas...
Os santos não são assim. Os santos são muito
realistas. Partem da realidade que lhes é dada e se dedicam de alma e coração a
cumprir a missão inadiável. Eles não pensam na Igreja ou em sua comunidade como
um lugar onde se recebem favores e regalias. Sabem que sua tarefa consiste em
imitar a Jesus, que lavou os pés de seus apóstolos. Mesmo que sejam elevados a
posições de mando, eles entendem sua autoridade como um serviço aos irmãos.
As crianças querem afagos, elogios, atenções
especiais. Se isso falta, emburram, amarram a tromba e iniciam sua ação
deletéria, feita de críticas, acusações, formação de partidos. Se um desses
imaturos acaba em posição de governança, será a vez de reclamar da má qualidade
de seus governados, além de abusar do poder e da autoridade. Os imaturos são
eternos insatisfeitos. Jamais serão felizes. E semearão à sua volta uma
enxurrada de amargura. Pior ainda: verão passar em vão a graça de Deus e
acabarão perdendo o bonde da história. Foi assim no tempo de Jesus. Continua
assim em nossos tempos.
Quando atingiremos a estatura do homem perfeito?
(Cf. Ef 4,13.) Quando deixaremos de lado nossas mamadeiras? (Cf. Hb 5,12.)
Quando assumiremos a missão que Deus colocou em nossas mãos?
Orai sem cessar: “Eis que vim para fazer a tua
vontade!” (Hb 10,9)
Texto de Antônio Carlos Santini, Comunidade
Católica Nova Aliança.
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