Ouviu-se um
grito em Ramá, choro e grande lamento; é Raquel que chora seus filhos, e não
quer ser consolada, porque eles já não existem mais! (Mt 2,18)
No tempo de
Herodes, por ocasião da visita dos Magos, o rei com medo que o menino
Jesus lhe fizesse sombra mandou matar todas as crianças do sexo masculino com
menos de dois anos. Comemoramos hoje a festa destas crianças inocentes que
deram a vida por Cristo ainda como recém-nascidos…
As crianças
constituem um mistério. Correm, saltam, são vigorosas. Escondem nelas riquezas
e valores. De outro lado são frágeis, precisam de todos os cuidados e, em
nossos tempos, sofrem toda sorte de violência, inclusive, são objeto de
chacinas.
Em vários
lugares do mundo, em escolas, elas são assassinadas por loucos que matam os
pequenos inocentes, matam-se a si mesmos, matam adultos. Drogados? Loucos?
Temos tido ocasião de ver o horror estampado nos rostos das crianças que
escapam aos massacres que se sucedem e diante dos quais os adultos se sentem
impotentes.
Há essas
crianças que nascem de adultos que não se amam de verdade. Crianças que moram
com a mãe e recebem periodicamente a visita do pai, crianças dilaceradas,
divididas interiormente (ou que nunca recebem visita). São inocentes que
precisarão, aos poucos, arrumar as coisas em seu interior para viverem com
dignidade.
Há essas
crianças que voltam à casa, que se encontram com pais preocupados com tanta
coisa e nunca com aquilo que borbulha no coração dos filhos, pais que têm
ideias feitas a respeito das crianças, planos consumistas. Muitas delas giram
em torno do pai e da mãe esperando a migalha de um sorriso, de uma manifestação
de atenção. São inocentes sem socorro.
Há essa
delicada e triste realidade da pedofilia.
Há essas quase
crianças, essas crianças que vão entrando na adolescência que são objeto de
cupidez por parte de adultos doentes, que usam seu corpo, pagam uma miséria e
fazem com esses fadados ao esplendor do existir se tornem seres
arruinados, perdidos, seres em pedaços.
Realmente,
ouve-se ainda choro e lamento. Os pais choram os filhos e na realidade eles não
existem mais.
Frei Almir Ribeiro Guimarães
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