Conhecemos uma tríplice vinda do Senhor. Entre a
primeira e a última há uma vinda intermediária. Aquelas são visíveis, mas esta,
não. Na primeira vinda o Senhor apareceu na terra e conviveu com os homens. Foi
então, como ele próprio declara, que viram-no e não o quiseram receber. Na
última, todo homem verá a salvação de
Deus (Lc 3,6) e olharão para aquele
que transpassaram (Zc 12,10). A vinda intermediária é oculta e nela somente
os eleitos o veem em si mesmos e recebem a salvação. Na primeira, o Senhor veio
na fraqueza da carne; na intermediária, vem espiritualmente, manifestando o
poder de sua graça; na última, virá com todo o esplendor da sua glória.
Esta vinda intermediária é, portanto, como um
caminho que conduz da primeira à última; na primeira, Cristo foi nossa
redenção; na última, aparecerá como nossa vida; na intermediária, é nosso
repouso e consolação.
Mas, para que ninguém pense que é pura invenção o
que dissemos sobre esta vinda intermediária, ouvi o próprio Senhor: Se alguém me ama, guardará a minha palavra,
e o meu Pai o amará, e nós viremos a ele (cf. Jo 14,23). Lê-se também
noutro lugar: Quem teme a Deus, faz o bem
(Eclo 15,1). Mas vejo que se diz algo mais sobre o que ama a Deus, porque
guardará suas palavras. Onde devem ser guardadas? Sem dúvida alguma no coração,
como diz o profeta: Conservei no coração
vossas palavras, a fim de que eu não peque contra vós (Sl 118,11).
Guarda, pois, a palavra de Deus, porque são felizes
os que a guardam; guarda-a de tal modo que ela entre no mais íntimo de tua alma
e penetre em todos os teus sentimentos e costumes. Alimenta-te deste bem e tua
alma se deleitará na fartura. Não esqueças de comer o teu pão para que teu
coração não desfaleça, mas que tua alma se sacie com este alimento saboroso.
Se assim guardares a palavra de Deus, certamente
ela te guardará. Virá a ti o Filho em companhia do Pai, virá o grande Profeta
que renovará Jerusalém e fará novas todas as coisas. Graças a essa vinda, como já refletimos a imagem do homem
terrestre, assim também refletiremos a imagem do homem celeste (1Cor
15,49). Assim como o primeiro Adão contagiou toda a humanidade e atingiu o
homem todo, assim agora é preciso que Cristo seja o senhor do homem todo,
porque ele o criou, redimiu e o glorificará.
Dos Sermões de São Bernardo, abade
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