O segundo
domingo da Quaresma somos convidados a subir a montanha com Pedro, Tiago e João
e a contemplar o rosto iluminado do Senhor Jesus. Os apóstolos fizeram uma
experiência única que nunca haveriam de esquecer: experiência de luminosidade
que apontava para a claridade da ressurreição do Senhor. Hoje é o
domingo da Transfiguração. Mas, atenção ainda não é páscoa. O que se tornara
claridade na montanha ainda atravessarias as trevas da paixão e da morte.
O relato da
transfiguração proclamado na liturgia deste domingo é de Lucas. A
experiência da claridade de Deus em Jesus se passa num contexto de
oração. “Jesus levou consigo Pedro, Tiago e João e subiu à montanha para
rezar”. Jesus entra em contato íntimo com o Pai. Deixa-se possuir
inteiramente pelo olhar do Pai. E a intimidade é tão forte que, naquele
momento, aparece no rosto de Jesus a sua mais íntima identidade:
ele é a luz que nasce da luz. Ele é Deus de Deus, luz da luz.
“Enquanto rezava, seu rosto mudou de aparência e sua roupa ficou muito branca e
brilhante”.
Lucas, no
capítulo nove de seu texto, faz Jesus começar sua caminhada para Jerusalém,
palco final e definitivo de sua missão e vida. No momento da
luminosidade “dois homens estavam conversando com Jesus: eram
Moisés e Elias”. Lucas afirma: “Eles apareceram revestidos de
glória e conversavam sobre a morte que Jesus iria sofrer em Jerusalém”.
Misturam-se luz e sombra. Há claridade ofuscante e a sombra da morte.
Pedro e seus companheiros estão com sono. De repente, acordam e fazem a
experiência da glória de Deus. Parece que o céu tinha descido sobre
a terra. Luz, glória, presença do céu na terra!
Pedro deseja
perpetuar aquele momento. Propõe que sejam fincadas tendas para que
o céu não deixe a terra! Os apóstolos entram na nuvem de Deus, na “nuvem”
da presença do Altíssimo. Têm medo. Há um espanto. Nunca esquecerão esse
momento. Quando nos aproximamos do Deus vivo temos que tirar as sandálias dos
pés e pedir que um anjo nos purifique os lábios com uma brasa ardente. No
meio de toda essa experiência há uma voz que vem do alto: “Este é o meu
Filho, o escolhido. Escutai o que ele diz!” Somos cidadãos do mundo
da claridade quando nos dispomos a escutar o Filho amado do Pai. Paulo
escreve aos filipenses: “Nós somos cidadãos do céu. De lá aguardamos o nosso
salvador, o Senhor Jesus Cristo. Ele transformará o nosso corpo humilhado
e o tornará semelhante ao seu corpo glorioso com o poder que tem de
sujeitar a si todas as coisas”.
Esse
Jesus que tem o corpo transfigurado transfigurará nosso corpo, nosso
irmão corpo, por meio do qual encontramos a Deus e os irmãos. Esse corpo
que não está fadado à destruição mas à glorificação. Os que participam do
mistério pascal de Cristo, os que descem às trevas do túmulo e sobem
ressuscitados com Cristo somos pessoas transfiguradas.
Frei Almir Ribeiro Guimarães
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