Nem sempre
Jesus encontrou receptividade em sua pátria. As autoridades religiosas temiam
que ele fosse um revolucionário que haveria de estabelecer o caos. Todos
pareciam contentes e satisfeitos com seus arranjos existenciais e religiosos,
com suas observâncias e com a fidelidade no culto, à sua maneira, meio ou muito
exterior. Jesus, no evangelho hoje proclamado, lembra verdades de ontem e de
sempre. “Nenhum profeta é bem recebido em sua própria terra”. Diante de um
auditório cético ou questionador, Jesus lembra que Elias fora enviado a uma
viúva de Sarepta e não a tantas outras viúvas de Israel. No tempo de Eliseu,
nenhum leproso de Israel fora curado, mas sim Naamã, o sírio. Esse estrangeiro,
no dizer do Livro dos Reis, ficou curado: ele “desceu e mergulhou sete
vezes no Jordão conforme o homem de Deus tinha mandado e sua carne se tornou
semelhante à de uma criancinha, e ele ficou purificado”. Essas invectivas de
Jesus desagradaram enormemente parte de seus ouvintes.
Um autor assim
comenta esta passagem: “Jesus recrimina a falta de fé dos habitantes de Nazaré,
cidade onde cresceu e mostra como nossos olhos se tornam cegos mesmo tendo a
salvação entre nós, como nos custa descobrir a presença de Deus que se esconde
na simplicidade de pessoas que estão perto de nós, na vida cotidiana, no lugar
em que estamos vivendo. Por isso, parece importante que, de quando em vez, nos
perguntemos para que estamos vivendo, como estamos vivendo. Mais importante,
quem sabe, saber onde estamos vivendo. Pode acontecer que venhamos a
desperdiçar nossa vida num mundo irreal, num futuro que nunca chega, na saudade
de tempos dourados que já se foram, ou na imaginação de um lugar que na
realidade não existe. O lugar em que Deus nos colocou precisa de alguém
que ame, que se entregue, que crie, que busque a paz. O lugar em que estou é
também ocasião de criar algo novo, para descobrir a presença de Deus, para
acolher sua luz e seu poder. Neste lugar há pessoas concretas, por meio das
quais Deus quer me dizer alguma coisa. Dificilmente, o Senhor nos enviará um
anjo para dizer o que espera de mim; normalmente se servirá das pessoas
que me cercam para que eu descubra o que ele deseja de mim”.
Jesus não foi
aceito em sua terra. Quando os doutores da lei e os fariseus ouviram as
palavras de Jesus, “ ficaram furiosos. Levantaram-se e o expulsaram da
cidade. Levaram-no até o alto do monte sobre o qual a cidade estava
construída, com a intenção de lançá-lo no precipício. Jesus, porém, passando
pelo meio deles, continuou seu caminho”.
Frei Almir Ribeiro Guimarães
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