"Habemus Papam". Os prognósticos da mídia
internacional foram por água abaixo; o conclave da Capela Sistina foi soberano,
derrubando todas as hipóteses que eram "certas". E o Sumo Pontífice é
argentino: o cardeal arcebispo de Buenos Aires, o jesuíta Jorge Mario Bergoglio,
76 anos, o sucessor de Pedro número 266, que escolheu como nome, Francisco.
A notícia, em poucos segundos fez o giro do mundo
na noite - hora de Roma - da última quarta-feira, pouco depois de uma hora da
fumaça branca ganhar os céus da Cidade Eterna anunciando que a Igreja de Roma e
do mundo tinham um novo Pontífice. No segundo dia de conclave, na quinta
votação os 114 eleitores - o cardeal não pode votar em si mesmo -, escolheram
para Sucessor de Pedro, um homem que vem "do fim do mundo", como se
referiu Papa Francisco ao seu lugar de origem, a Argentina.
No arco de poucos dias vivemos grandes mudanças e
sentimos no ar o perfume de renovação. Um Papa que saiu e um novo Papa que
chega do Novo Mundo; um jesuíta, que se chama Francisco, em cujo nome há todo
um programa... De fato, Francisco é o santo da pobreza, da simplicidade, do
amor aos pobres.
Papa Francisco, homem simples, modesto, que
conquista com o olhar de pastor de quem conhece o seu rebanho. Depois da
chegada à América, 500 anos atrás da Boa Nova, com os primeiros missionários,
franciscanos e jesuítas, agora é a mesma América, desta vez Latina que oferece
um de seus filhos para conduzir o barco de Pedro. Ele traz na sua bagagem uma
Igreja viva, cheia de espiritualidade, com uma religiosidade que poderá ajudar
a inflamar uma Europa que está perdendo a sua identidade cristã; uma Ásia que
descobre o Evangelho; uma África que produz frutos sem igual na sua história
com um crescimento importante no número de católicos.
Um homem-Papa que já nas suas primeiras palavras
falou de um "caminho de Fraternidade, de amor, de confiança entre
nós". Pediu para que "rezemos uns pelos outros, que rezemos por todo
o mundo, para que exista uma grande fraternidade". Um pastor que sempre se
preocupou pelo próximo, pelos necessitados, pelos últimos. Bergoglio, conhecido
também como um homem muito humilde chegou a trocar os ambientes da cúria para
viver em um simples apartamento em Buenos Aires; também dispensou o uso de um
automóvel oficial e chegava cozinhar as suas próprias refeições.
Quando foi criado cardeal por João Paulo II em
2001, o então dom Bergoglio pediu aos fiéis que, ao invés de viajarem até Roma,
com um gasto excessivo, distribuíssem o dinheiro da viagem entre os mais
pobres. O mesmo pedido foi feito nesta semana aos argentinos que queriam vir a
Roma para o início de seu pontificado; não venham, deem o dinheiro aos pobres.
Os meios de comunicação locais confirmam ainda que durante a crise econômica
que atingiu a Argentina, surgiu como "uma voz da consciência
nacional" e, por várias vezes, alertou para as consequências da
globalização desregrada para os que já sobrevivem com muito pouco.
Estes são alguns simples exemplos do comportamento
do homem escolhido pelos senhores cardeais em conclave para conduzir a Igreja
de Cristo, entre as intempéries hoje, entre as dificuldades e desencantos de
uma Igreja que apesar do sofrimento, ainda está viva.
A América Latina, que viu crescer a sua fé com os
missionários jesuítas, agora oferece um filho de Inácio para confirmar na fé os
irmãos presentes em todos os ângulos da terra. Uma América latina que sofre
pelas injustiças, pelas opressões, pelas desigualdades sociais terá certamente
em Papa Francisco um ponto de referência, uma voz ímpar que recordará ao mundo o
valor indiscutível e incomensurável de cada pessoa, de cada ser humano.
Esta é a primeira vez em dois milênios que é
escolhido um Papa nascido no grande continente americano. Nos últimos 1300
anos, o eleito pelo conclave sequer era de fora da Europa.
Todavia, a eleição de Francisco no quinto
escrutínio, faz ver ao mundo a unidade dos cardeais construída ao redor de
Bergoglio. Unidade que o cardeal Ângelo Sodano, decano do colégio cardinalício
tanto sublinhou na sua homilia na missa "Pro Eligiendo Pontifice
Romano", no dia do início do conclave.
Francisco, um nome, uma opção, uma escolha não
indiferente que recorda o pobrezinho de Assis, e a sua revolução de amor e
simplicidade, mas também Francisco Xavier, homem de missão e evangelização.
Papa Francisco, é essa síntese, homem da
simplicidade e da evangelização, que traz consigo, para o bem de toda a Igreja,
os anos de pastor de uma das Arquidioceses mais importantes da América Latina,
Buenos Aires.
Mas também é um homem de oração como pudemos notar nos
seus primeiros momentos como Papa; pediu a oração de todos e disse que rezará
por todos, para que no mundo todo haja uma grande fraternidade. O Papa do olhar
simples e da voz macia, já entrou nos corações dos fiéis do mundo inteiro.
Silvonei José Protz, Colunista do Portal
Ecclesia.
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