Quando
refletimos sobre a anunciação do anjo a Maria lembramo-nos das belas e
delicadas linhas de São Bernardo de Claraval: “Apressa-te, ó Virgem, em
dar a tua resposta; responde sem demora ao Anjo, ou
melhor, responde ao Senhor por meio do Anjo. Pronuncia
uma palavra e recebe a Palavra; profere a tua palavra e recebe a
Palavra de Deus; dize uma palavra passageira e abraça a
Palavra eterna”.
Ela, Maria da
cidade de Nazaré, vivia a vida de todas as mulheres de sua terra.
Cuidava das coisas da casa, buscava água no poço, participava das
festas religiosas em Jerusalém, frequentava a sinagoga. A
julgar pelo Cântico do Magnificat, composição inspirada na
espiritualidade dos “pobres de Javé”, Maria devia ter familiaridade
com o espírito dos salmos e marcada também pela figura de
Abraão: crer irrestritamente. Frequentava a sinagoga e vivia no meio do
seu povo. Como todos os verdadeiros buscadores de Deus Maria, sempre se
perguntava a respeito dos desígnios de Deus a seu respeito.
Quando
chegou a plenitude dos tempos, o Altíssimo resolveu concretizar seu eterno
plano de amor: juntar sua eternidade à fugacidade do tempo dos viventes,
realizar uma comunhão de amor entre seu Mistério e a humanidade que
saíra de suas mãos. Seu projeto era ganhar carne para poder beber a
água de nossas fontes, sentar-se às nossas mesas e experimentar ser
homem, vivendo nossa vida e nossa morte. Este o Mistério central da fé
cristã: Deus se tornou carne.
O enviado
do Altíssimo se aproxima de Maria de Nazaré e dá-se o grande
anúncio. O céu se aproxima da terra. O mensageiro divino
fala: “Maria, tu és cheia da graça do Senhor. O Senhor é
contigo. Tu conceberás um filho na tua virgindade, na inteireza de tua
vida, na plenitude da presença de Deus em ti com sua graça. Tu
estás prometida em casamento a José. A sombra do Altíssimo pousará sobre
ti e esse que vai nascer de ti será chamado de santo, Filho de Deus. O
Espírito fará gerar vida. Todo o mundo aguarda teu Esperamos quem
não hesites.”
E Maria:
“Está bem. Acolho com carinho e obediência esse apelo que veio até esse
ser pequeno que sou eu. Faça-se em mim segundo a tua Palavra. Eu
sou a serva do Senhor. Está muito bem”. Assim, com sim
de Maria de Nazaré Deus começava a concretizar o sonho eterno de ser um
de nós e nos arrancar das sombras da morte levando-nos para a luz que não
conhece ocaso.
Belamente
cantamos no Prefácio da Missa: “A Virgem Maria recebeu com fé o anúncio
do anjo; e à sombra do Espírito Santo, acolheu com amor no
seio puríssimo, aquele que, para salvar os seres humanos, quis
nascer entre eles. Assim, cumpriam-se as promessas feitas a Israel,
e de inefável, realizava-se a esperança das nações”.
Maria
deu carne, braços, mãos, pés, respiração, vida ao Verbo para viver e
morrer por amor dos homens.
Frei Almir Ribeiro Guimarães
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