O primeiro
artigo do Credo nos faz professar nossa fé em Deus Pai, criador do céu e da
terra. Estamos acostumados a entrar em contato com a doutrina da criação a
partir dos dois primeiros capítulos do Gênesis. A leitura do
Eclesiástico, hoje proclamada em nossa liturgia, faz uma leitura paralela
ao texto do Gênesis e, de alguma forma, complementar.
Deus cria o
homem da terra, do barro. Os homens são feitos à imagem de Deus.
Temos em nós o selo do Altíssimo e, ao longo de nossa vida, haveremos de lutar
para não perder a beleza de sermos imagem daquele que não é debaixo nem da
terra. O homem que é pó e terra volta à terra. Mas é imagem de
Deus. No dizer de Pascal é fragilidade que pensa.
O homem é
contingente, não é Deus. Seus dias são contados. No entanto, está
no centro de tudo. Deus lhe deu autoridade sobre tudo o que existe. Ele é
o guardião da terra, o cuidador, o governador das coisas que Deus dá para o uso
de todos os seus filhos. Deus infundiu nos animais, feras e
pássaros, temor pelo homem.
Em linhas
admiráveis o autor do Eclesiástico descreve as grandezas da criatura homem:
“Deu aos homens discernimento, língua, olhos, ouvidos e um coração para pensar;
encheu-os de inteligência e de sabedoria. Deu-lhes ainda ciência do espírito, e
encheu seu coração de bom senso e mostrou-lhe o bem e o mal”.
Esse ser espiritual capaz de discernir o bem do mal, de escolher o melhor, com
a língua para comunicar-se, travar relacionamentos. Deu-lhe ouvidos para
pensar. Curiosamente o Eclesiástico fala de “ouvidos” para
pensar. Será que se pode pensar com os ouvidos? Talvez a boa arte
de escutar levar elementos importantes para o espírito e para o coração.
Deus fez o
homem para ser cantor de suas obras e de suas grandezas. Caminhando pelas
estradas, ouvindo o canto dos pássaros, contemplando o sorriso da criança no
berço e riso desdentado da velha senhora cheia de
paz o homem haveria de louvar o criador. Missão nobre e bela do homem
a de reconhecer a glória de Deus presente em suas criaturas, criaturas que
são vestígios e traços do Senhor. “Concedeu-lhes ainda que se gloriassem
de suas maravilhas, louvassem o seu nome santo e proclamassem as grandezas de
suas obras”.
Uma observação
cheia de sutileza e de atualidade: “Concedeu-lhes ainda a instrução e
entregou-lhes por herança a lei da vida”. O homem é instruído pelo Alto,
pelo Espírito que é derramado em seu coração. Deus firma uma Aliança
eterna com os homens e eles são responsáveis por guardar, proteger e promover a
vida. O homem é o grande administrador da obra da criação,
sobretudo cuidador da vida do irmão. E para terminar: “Tomai cuidado com
tudo o que é injusto”.
Frei Almir Ribeiro Guimarães
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