“Voltemos agora ao nosso jardim ou vergel, e vejamos como essas árvores começam a impregnar-se para florescer e depois dar frutos, e os cravos e flores, para dar perfume. Agrada-me essa comparação, porque inúmeras vezes, quando comecei (e queira o Senhor que eu tenha começado a servir a Sua Majestade; digo ‘quando comecei’ referindo-me ao início do que doravante contarei da minha vida), eu tinha grande deleite em considerar a minha alma um jardim e ver o Senhor passeando nele. Eu lhe suplicava aumentasse o perfume das florezinhas de virtudes, que começavam, pelo que eu percebia, a querer brotar, e que elas fossem para a Sua glória, e que Ele as sustentasse, pois eu não queria nada para mim, pedindo-Lhe ainda que podasse as que quisesse, porquanto eu sabia que flores maiores iriam brotar. Digo ‘podar’ porque há momentos em que a alma não se lembra desse jardim: tudo parece seco, sem água para sustentar, tendo-se a impressão de que a alma jamais teve em si virtudes. É grande o sofrimento. Porque o Senhor deseja que o pobre jardineiro pense que todo o trabalho que teve para cuidar do jardim e regá-lo se perdeu. É então que chega o real momento de arrancar pela raiz as ervas daninhas, mesmo pequenas, que ficaram e de reconhecer que nenhum esforço basta se Deus nos tira a água da graça; assim,vemos que o pouco que temos é nada, e menos que nada, ganhando muita humildade. Eis que as flores voltam a crescer.”
Extraído do “Livro da Vida”, de Santa Teresa de Jesus
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