Quando
chega o Natal, gosto de contemplar as imagens do
Menino Jesus. Essas figuras, que nos mostram o Senhor tão humilhado,
recordam-me que Deus nos chama, que o Onipotente quis apresentar-se desvalido,
quis necessitar dos homens. Da gruta de Belém, Cristo diz a mim e a você que
precisa de nós; reclama de nós uma vida cristã sem hesitações, uma vida de
doação, de trabalho, de alegria.
Não conseguiremos jamais o verdadeiro bom humor se não imitarmos deveras Jesus, se não formos humildes como Ele. Insistirei de novo: vemos onde se oculta a grandeza de Deus? Num presépio, nuns paninhos, numa gruta. A eficácia redentora de nossas vidas só se produzirá se houver humildade, se deixarmos de pensar em nós mesmos e sentirmos a responsabilidade de ajudar os outros.
É normal, às vezes até entre almas boas, criarem-se conflitos íntimos, que chegam a produzir sérias preocupações, mas que carecem de qualquer base objetiva. Sua origem está na falta de conhecimento próprio, o qual conduz à soberba, ao desejo de se tornarem o centro da atenção e estima de todos, à preocupação de não ficarem mal, de não se resignarem a fazer o bem e desaparecer à ânsia de segurança pessoal. E, assim, muitas almas que poderiam gozar de uma paz extraordinária, saborear um imenso júbilo, transformam-se, por orgulho e presunção, em infelizes e infecundas!
Cristo foi humilde de coração (cf. Mt 11,29). Ao
longo da sua vida, não quis para si nenhuma coisa especial, nenhum privilégio.
Começa por permanecer nove meses no seio de Sua mãe, como qualquer outro homem,
com extrema naturalidade. O Senhor sabia de sobra que a humanidade necessitava
d'Ele com urgência. Tinha, portanto, fome de vir à Terra para salvar todas as
almas, mas não precipita o tempo. Ele vem na Sua hora, como chegam ao mundo os
outros homens. Desde a concepção até o nascimento, ninguém - a não ser São José
e Santa Isabel - percebe esta maravilha: Deus veio habitar entre os homens!
O Natal também está rodeado de uma simplicidade admirável: o Senhor vem sem estrondo, desconhecido de todos. Na Terra, só Maria e José participam da divina aventura. Depois, os pastores, avisados pelos anjos. Mais tarde, os sábios do Oriente. Assim se realiza o fato transcendente que une o céu à terra, Deus ao homem!
Como é possível tanta dureza de coração, que cheguemos a nos acostumar a estes episódios? Deus humilha-se para que possamos nos aproximar d'Ele, para que possamos corresponder ao Seu amor com o nosso amor, para que a nossa liberdade se renda não só ante o espetáculo do Seu poder, como também ante a maravilha da Sua humildade.
Grandeza de um Menino que é Deus. Seu Pai é o Deus que fez os céus e a terra, e Ele ali está, num presépio, quia non erat eis locus in diversorio (Lc 2,7) - porque não havia outro lugar na terra - para o dono de toda a Criação. ('É Cristo que passa', 18)
Nosso Senhor dirige-se a todos os homens para que caminhem ao Seu encontro, para que sejam santos. Não chama só os Reis Magos, que eram sábios e poderosos; antes disso, tinha enviado aos pastores de Belém, não já uma estrela, mas um de seus anjos (Lc 2,9). No entanto, quer uns quer outros - sejam pobres ou ricos, sábios ou menos sábios - devem fomentar na sua alma uma disposição humilde que permita escutar a voz de Deus. ('É Cristo que passa', 33)
"Hoje, brilhará sobre nós a luz, porque nasceu para nós o Senhor!" Eis a grande novidade que comove os cristãos e, por meio deles, dirige-se à humanidade inteira. Deus está aqui! Esta verdade deve tomar posse de nossas vidas. Cada Natal deve ser para nós um novo encontro especial com Deus, que deixe a Sua luz e a Sua graça penetrarem até o fundo da nossa alma. ('É Cristo que passa', 12)
São Josemaria Escrivá, Fundador da
Opus Deis
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