"Então entrou também o outro discípulo, que tinha chegado primeiro ao túmulo. Ele viu e acreditou." (Jo 20,8)
Os ícones orientais da Ressurreição (em grego,
anástasis) de Cristo mostram o túmulo vazio e a pedra rolada. Mas um detalhe
chama nossa atenção: as bandagens (em grego, tà othónia) que haviam envolvido o
corpo de Jesus, não foram desmanchadas nem dobradas, como dizem algumas
traduções, mas se mostravam frouxas, estendidas (em grego, keimena). No ícone
bizantino, vê-se claramente um casulo vazio, de onde voara a borboleta de volta
à Vida. O Cristo Senhor ressuscita sem desmanchar seu invólucro de linho, mirra
e aloés!
Foi isto que João viu e... acreditou. Doravante, os
apóstolos pregarão: Não podemos calar o que vimos e ouvimos.” (At 4,20.) “O que
vimos com nossos olhos... nós vo-lo anunciamos...” (1Jo 1,1.3.) A simples visão
do túmulo vazio não bastaria para levar à convicção da ressurreição de Cristo.
Mas a evidência de que Jesus passara através das bandagens sem as desmanchar,
deu-lhes a certeza que ainda lhes faltava. Neste Evangelho, vão lado a lado
Pedro e João, a instituição e o carisma. João, bem mais jovem, corre mais
rápido e chega primeiro. Mas não entra, reconhecendo a precedência de Simão
Pedro, que Jesus havia postado à frente dos Doze.
E é de João – autor deste texto – o ato de fé, que
brota do “insight” despertado pela visão das bandagens acamadas no solo,
tornadas sólidas e firmes pelos aromas (cem libras: mais ou menos 30kg!)
trazidos por Nicodemos para o embalsamamento de Cristo. Uma frase de Jesus –
“Bem-aventurados os que não viram e, contudo, creram” (Jo 20,29) – tem sido
insistentemente usada por aqueles que apregoam uma fé quimicamente pura, fé que
dispensa sinais e milagres. Ora, se esses sinais que falam à visão e aos outros
sentidos fossem inúteis, o próprio Senhor não teria devolvido a vista aos cegos
nem ressuscitado Lázaro.
Deus sabe que somos humanos e, às vezes, hesitantes
na fé, acabamos dependentes de sinais. Por isso mesmo, entre santos e entre
pecadores, Ele sinaliza sem reservas, com demonstrações de seu poder e de seu
amor. Se os racionalistas torcem o nariz para os milagres, tanto pior para
eles! Enquanto isso, na esteira de João e Pedro, que não deram ouro nem prata
ao aleijado da Porta Formosa, mas lhe devolveram a capacidade de caminhar, o
povo simples aceita com alegria todos os milagres que Deus dá. Tanto melhor
para eles...
Orai sem cessar: “Vem em socorro à minha falta de
fé!” (Mc 9,24)
Antônio Carlos Santini, Comunidade Católica Nova
Aliança.
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