Qual Deus existe, como tu, que apagas a iniquidade
e esqueces o pecado daqueles que são resto de sua propriedade?
Miqueias é convidado a pastorear o rebanho do
Senhor na volta do exílio. Deus cuida dos seus e lhes garante o perdão. Esse
será o teor da fala do profeta.
Nunca haveremos de compreender suficientemente a
misericordiosa bondade do Senhor que, com seu perdão, coloca em
nosso interior uma renovada vontade de viver.
Muito já refletimos sobre o mistério de nosso
existir. Somos pó, fragilidade e, ao mesmo tempo, temos desejo das
alturas, da plenitude da bondade. Somos uma contradição ambulante. Buscamos as
estrelas e, ao mesmo tempo, rastejamos por espaços lamacentos. Não temos a
coragem de nos entregar de verdade ao Senhor. Ouvimos sua voz em nosso
interior, acolhemos as palavras dos profetas que nos convidam à conversão,
ouvimos o apelo de Jesus para sermos artífices e construtores de um mundo de
harmonia. Aqui e ali caímos. Pior, por vezes, há mesmo uma instalação na
mediocridade, na monotonia de uma vida sem sentido, na repetição de palavras,
gestos que não nos plenificam. Somos pecadores. Pela misericórdia do Senhor, a
vida em plenitude pode ser retomada.
“Pela misericórdia, o passado do homem pecador não
existe mais; ele pode recomeçar tudo. Pode alguém sentir-se chocado com
esse continuo falar de misericórdia e perdão. Parece-lhe pouco sério refugiar-se
junto a um Deus que passa por cima de nossa falta de esforço. Dir-se-ia
um jeito demasiado fácil de libertar-se da consciência. Quem, porém,
raciocina deste modo esquece que a misericórdia de Deus está ligada à
exigência da conversão e que o perdão é verdadeira redenção, libertação,
renovação, nova criação. Deus não fecha os olhos com complacente paternalismo,
mas abre novo crédito de confiança a nossas responsabilidades e dá garantia de
vencer o mal com o bem. Renova assim no pecador a a alegria de viver” ( Missal
Cotidiano da Paulus, p. 222).
Quando fazemos a viagem em nosso interior e
experimentamos a dor de não termos sido do Senhor, de termos caminhado como ele
não fosse nosso companheiro, de termos ceifado alegria do coração de nossos
irmãos, de termos girado em torno de nosso pequeno universo temos um
desejo incontido de perdão que nos permita recomeçar a história de uma outra
maneira. Ganhamos uma vontade de viver.
Frei Almir Ribeiro Guimarães
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