Estamos numa mudança de época. Vivemos muitas crises. A maior delas é a
crise de fé. Acredita-se ainda? Acreditar em que e em quem? Há algo que ainda
dá sentido à vida? Para onde caminha a humanidade? A plenitude deu
definitivamente lugar ao niilismo?
Em resposta à crise de fé, os fiéis da Igreja Católica foram e são
desafiados a viver um “Ano da Fé”, que iniciou em outubro do ano passado e
termina em novembro deste ano. Foi proclamado, ainda, pelo Papa emérito, Bento
XVI. Ele mesmo colocou uma finalidade contundente do “Ano da Fé”: “repensarmos
e vivenciarmos a fé”. Em outras palavras, deseja o que o grande apóstolo das
nações nos primórdios do cristianismo, o Paulo de Tarso, já propusera aos que
tinham abraçado a fé em Jesus Cristo: “dar sempre razões à fé”. Também hoje, na
mudança de época em que vivemos, é urgente a tarefa nossa de “darmos novas
razões à fé”. Senão sucumbimos por falta de convicções; senão sucumbimos no
vazio da existência sem perspectivas. Precisamos urgentemente recuperar a alegria
de crer. Precisamos urgentemente testemunhas de uma fé viva e forte.
Qual é o cerne da fé cristã? É preciso acreditar em que e em quem mesmo?
Pois, a resposta é esta: é preciso acreditar na PÁSCOA! Não existe ressurreição
sem Páscoa! Não existe felicidade sem Páscoa! Não existe graça sem Páscoa! Não
existe vida sem Páscoa! Não existe luz sem Páscoa! Hoje, na mudança de época em
que vivemos, numa sociedade cada vez mais do
“fácil-relativo-supérfluo-efêmero-transitório”, quer-se viver a ressurreição, a
felicidade, a graça, a vida, a luz, mas sem uma Páscoa.
Páscoa é passagem. Passagem da cruz para a ressurreição, passagem da
facilidade para a felicidade, passagem do pecado para a graça, passagem da
morte para a vida, passagem das trevas para a luz. Nessa passagem é preciso
abraçar a cruz. Procura-se sempre mais fugir da cruz. A fuga da cruz é uma
ilusão e não nos leva à ressurreição, à felicidade, à graça e à vida.
Vamos acreditar na Páscoa: a humanidade depende desta fé. A humanidade
precisa da Páscoa-passagem do sepulcro escuro do niilismo para a ressurreição
luminosa da plenitude. Ainda é atualíssima a palavra do grande Agostinho de
Hipona: “nosso coração anda inquieto enquanto não repousa no Absoluto-Deus”.
Dom Jacinto Bergmann, Arcebispo
de Pelotas
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