Um adolescente
de 17 anos entra na casa do vizinho e mata um menino de seis anos. Dois dias
depois, é preso juntamente com a namorada, de 19 anos, grávida de três meses,
quando tentava fugir para outro Estado. Na entrevista que, em seguida, deu à
imprensa, revelou que, quando chegou à casa da vítima, foi recebido com alegria
pela criança: «Ela me
ofereceu pão e maçã, dizendo que, se eu quisesse mais, podia entrar e pegar».
Uma mãe de 42
anos e seu filho de 20 contratam os serviços de um “matador de aluguel” para
assassinar o marido e padrasto de 63 anos e ficar com os seus bens. Armando uma
emboscada ao idoso, o chamam para conversar em local insuspeito e, quando
aparece, é friamente assassinado pelo criminoso, que mal completou 17 anos.
Um adolescente
de 15 anos mantém a “esposa” de 25 sob a ameaça de um facão durante varias
horas. Chamada ao local, a polícia detém a ambos: o rapaz por violência e a
moça por desacato à autoridade.
Os três fatos
aconteceram em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, mas poderiam ter ocorrido
em qualquer outra cidade. O que impressiona – se é que ainda impressiona – é
que, em todos eles, os protagonistas são adolescentes e os delitos se sucederam
no espaço de três dias, de 4 a 6 de abril de 2013.
Mas, o que
esperar de uma sociedade que, depois de escancarar as portas ao materialismo,
ao permissivismo e ao relativismo, finge se escandalizar com suas consequências
e abarrota as prisões com jovens, cujo pecado foi seguir seus ensinamentos? Se
se quer extirpar ou diminuir a violência que grassa entre eles, mais do que
diminuir-lhes a maioridade penal, do que se precisa é investir na formação de
sua consciência ética através da família. Foi o que lembrou a CNBB, em “nota”
publicada, no dia 16 de maio: «O
debate sobre a redução da maioridade penal, colocado em evidência mais uma vez
pela comoção provocada por crimes bárbaros cometidos por adolescentes,
conclama-nos a uma profunda reflexão sobre nossa responsabilidade no combate à
violência, na promoção da cultura da vida e da paz e no cuidado e proteção das
novas gerações de nosso país. A delinquência juvenil é, antes de tudo, um aviso
de que o Estado, a Sociedade e a Família não têm cumprido adequadamente com seu
dever. Criminalizar o adolescente com penalidades no âmbito carcerário seria
maquiar a verdadeira causa do problema, desviando a atenção com respostas
simplórias, inconsequentes e desastrosas para a sociedade».
É na família
que se inicia a renovação, ou a perdição, da sociedade. Nesse sentido, só
deveria casar – e, mais ainda, gerar filhos – quem está preparado e maduro para
assumir os compromissos que o ato comporta. É o que tenta transmitir uma
estória que, há poucos dias, recebi via internet. Em sua simplicidade, ela tem
muito a ensinar.
Certo dia, a
professora pediu aos alunos que fizessem uma redação, expressando um pedido que
gostariam fazer a Deus. Em casa, ao corrigir os trabalhos escolares, ela se
deparou com um escrito que a deixou abalada. Entrando na sala e vendo-a
soluçar, o marido perguntou: «O
que aconteceu?». Como resposta, ela lhe repassou a oração que uma
aluna redigira: «Senhor,
transforma-me numa televisão! Quero ocupar o espaço dela. Ter um lugar especial
para mim e reunir a família ao redor. Ser levada a sério quando falo. Quero ter
a mesma atenção que ela recebe quando não funciona. Ter a companhia do meu pai
quando chega em casa, apesar de cansado. Que minha mãe me procure quando
estiver sozinha e aborrecida, em vez de me ignorar. Que meus irmãos “briguem”
para poderem estar comigo. Quero sentir que a minha família deixa tudo de lado
para passar alguns momentos comigo». Ao ouvir a leitura, o marido exclamou:
«Pobre dessa menina! Que família ela tem!». A professora baixou os
olhos e sussurrou: «É
nossa filha!».
A estória
confirma o que escreveram, em 2007, os bispos latino-americanos em sua reunião
de Aparecida: «Os
meios de comunicação invadem todos os espaços, inclusive a intimidade do lar. A
sabedoria das tradições se vê obrigada a competir com a informação do último
minuto, a distração e as imagens de “vencedores” que sabem usar a seu favor as
ferramentas tecnológicas, levando as pessoas buscarem afoitamente um sentido
para a vida onde nunca poderão encontrá-lo».
Dom Redovino
Rizzardo, Bispo de Dourados (MS)
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