Se um homem
deixa o barulho e a agitação do mundo e procura no silêncio o seu descanso,
Deus se manifesta para ele. Deus prefere se mostrar na suavidade da brisa a se
mostrar no estardalhaço do trovão. Para tomar consciência de Sua presença que
nos envolve e escutar Sua voz, é necessário acalmar a tempestade, fazer calar
as vozes que ribombam em nossa cabeça. Na oração, Deus fala. Deus escuta, mas
também tem o que dizer a você, a mim, a nós.
Um dia, na
Missa, logo após a consagração, alguém começou um solo de violão e o sacerdote
interveio dizendo: “Silêncio! Diante do Absoluto…” Deus é o Absoluto, quando
Ele se manifesta, a melhor oração que podemos fazer é calar. Quando o homem
cala, Deus fala.
Assim, em
nossa oração, devemos fazer tudo o que está ao nosso alcance para nos colocar
na presença de Deus, que já estava ali à nossa espera, e quando percebemos que
nos aproximamos do Senhor e estamos diante dEle, devemos calar porque as
palavras já não são necessárias; então podemos contemplar e ser contemplados.
Não temos ideia
do quanto Deus nos cura e liberta neste momento de silêncio, quando só o amor
transita. Damos um amorzinho frágil, miserável e impuro e recebemos uma
descarga avassaladora de amor inebriante que nos torna vencedores.
Ninguém mais
do que Nossa Senhora ouviu a Deus, porque ninguém tanto quanto ela se calou.
Muitos acham que Maria não é importante pois as Sagradas Escrituras mostram que
ela quase não se pronunciou. Não percebem que é justamente aí que reside a sua
importância. Ela deixou Deus ser Deus, calou para Ele falar… E por meio de
Maria, Deus disse uma Palavra que de tão concreta se fez carne. Ela não
precisava falar, outro falava em seu silêncio.
Na anunciação,
a resposta de Maria foi basicamente um “sim”, com Isabel tudo o que fez foi
cumprimentá-la. Quando ninguém deu lugar ao seu Filho para nascer, ela calou;
entre os doutores, ela calou; na cruz, ela calou. Ela sabia que a vitória que
temos sobre o sofrimento está no silêncio. Quem se cala ante o sofrimento
guarda só para Deus o perfume deste sacrifício; quem fala dissipa-o.
Podemos dizer
que São Tomás de Aquino seguiu à risca este exemplo de Maria.
Conta-se que
por São Tomás de Aquino ser muito gordo e por falar pouco puseram-lhe um
apelido: boi mudo, era assim que o chamavam e procuravam atormentá-lo. Um dia,
um de seus professores ouviu quando o chamaram de boi mudo e fez uma
observação: “Quando este boi mugir, vai tremer o mundo”, e assim aconteceu. Ele
é um dos santos que abalaram o mundo pela sabedoria que adquiriu no silêncio.
Nossa Senhora
falou pouco, mas quando abriu a boca a criação estremeceu. João Batista foi só
um exemplo do que aconteceu à humanidade.
Que o Espírito
Santo nos ponha no coração o desejo de guardar o silêncio sagrado, o mesmo que
Maria honrou e guardou tornando-se a mestra, a educadora de todos os que de
longe perceberam a profundidade deste mistério e agora anseiam por penetrá-lo!
Dê-nos, o
Senhor, um anjo para nos guardar neste bom propósito.
“Senhor, eu
vos chamo, vinde logo em meu socorro; escutai a minha voz quando vos invoco.
Que a minha oração suba até vós como a fumaça do incenso; que minhas mãos
estendidas para vós sejam como a oferenda da tarde. Ponde, Senhor, uma guarda
em minha boca, uma sentinela à porta de meus lábios” (Sl 140,1-3).
Do livro "Quando só Deus é a resposta", Márcio Mendes
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