sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Para Deus sonhar em mim preciso me esvaziar

A frase que intitula essa matéria está no final de uma linda música interpretada pela cantora católica Eliana Ribeiro, e, em outras palavras, diz assim: que quando decidimos deixar tudo para a Deus seguir não temos noção de onde Ele vai nos levar; que a vida passa a ser apenas o hoje, pois o amanhã dEle depende, só nos resta confiar; que devemos estar abertos ao novo a cada dia e amar os que Deus quer ao nosso lado, e seguir, pois se Deus é o nosso tudo, nada há de faltar! ...

Quem é que não almeja algo em sua vida? Seja se dar bem nos estudos, conseguir um(a) namorado(a), ter sucesso profissional, adquirir isso ou aquilo... É através dos nossos sonhos que vamos dando impulso à nossa vida. Mas o que significa “Deus sonhar em mim (em você)”? Existe uma passagem bíblica que diz que “o que os olhos não viram, os ouvidos não ouviram e o coração do homem não percebeu, foi isso que Deus preparou para aqueles que o amam. A nós, porém, Deus o revelou pelo Espírito Santo. Pois o Espírito sonda todas as coisas, até mesmo as profundidades de Deus” (1Cor 2,9-10). Ou seja, Deus sonha por nós e não é sonho pequeno, não! Precisamos descobrir quais são os sonhos de Deus para nós e para isso Ele também nos dá a receita, enviando o Espírito Santo para nos auxiliar nesse discernimento.

Precisamos nos esvaziar de toda e qualquer coisa que nos impeça de descobrir quais os sonhos que Deus tem para nós e um dos fatores que não nos permite tomar essa decisão é o medo de perder coisas, pessoas, posição... Esse medo tem fundamento, pois para seguir os planos de Deus temos que realmente nos desligarmos de algumas coisas e pessoas. Em nosso meio, vemos tantos jovens que procuram a Deus, vão a um encontro de oração, se sentem tocados, mas, enquanto mantém “um pé na Igreja”, deixam o outro junto com a turminha das festas regadas a bebedeiras, prostituição, drogas.  Isso faz com que eles não consigam discernir o que o Espírito Santo deseja tanto lhes revelar, faz com que os sonhos de Deus para suas vidas não sejam concretizados.

Aí você pode até perguntar: mas que sonhos são esses que sobrepõem uma vida de festas, amigos, diversão? E eu te respondo que a alegria que cada momento desses vivido proporciona é momentânea, não passa daquela noite, daquela festa; após passar o “efeito”, deixa um vazio enorme. Por muitas vezes vejo nas mídias sociais as pessoas falarem de um alguém que “arrasou” em tal festa e, pouco tempo depois, vejo esse alguém falando que tá de mal com a vida, com os amigos, que nada mais faz sentido... Faço agora uma comparação com algumas pessoas que decidiram largar fardos pelo caminho, decidiram se esvaziar e seguir a Deus. Essas pessoas além de estarem vencendo diariamente os obstáculos da vida, ainda conseguem levar outras para o caminho da Salvação. São pessoas que também passam por dificuldades, mas conseguem encarar essas dificuldades com mais confiança. São vencedores no plano de Deus.

Tomemos como exemplo o próprio Jesus, que decidiu esvaziar-se de si mesmo para se tornar Cristo, que deixou o mundo da glória – é isso mesmo, ele estava se tornando famoso por causa dos seus milagres, da sua pregação! – para se entregar na cruz, para sonhar os sonhos do Pai. O resultado desses sonhos: a remissão dos nossos pecados.

Sonhar o sonho de Deus é confiar plenamente na Sua ação e abandonar-se em Suas mãos, acreditando que Ele jamais nos abandonará, que Ele deseja o melhor para nós!
Que o Senhor nos abençoe na caminhada rumo à concretização dos planos que Ele tem para nós.
Amém!

Texto também postado no blog gocarnaubadosdantasrcc.blogspot.com

Assim é o Reino de Deus

No Evangelho de hoje (27/01/2012), temos duas pequenas parábolas, a primeira própria de Marcos e a segunda compartilhada por Mateus (13,21ss) e Lucas (13,18ss).

Na parábola da semente, Jesus indica que o Reino tem uma força intrínseca que independe dos trabalhadores. Na segunda parábola, Ele indica que o Reino, minúsculo no tempo de Cristo, expandir-se-á de modo a se estender pelo mundo inteiro. Vejamos alguns versículos:

E dizia: “Assim é o Reino do Deus, como se um homem lançasse a semente sobre a terra” (v. 26). Que significa “Reino de Deus”? No Antigo Testamento Javé, o Deus de Israel, era o verdadeiro Rei e Seu Reino abrangia todo o universo. Os juízes eram praticamente os Seus representantes. Por isso, o Seu profeta Samuel, último juiz, escutou estas palavras: “Não é a ti que te rejeitam, mas a mim, porque não querem mais que eu reine sobre eles” (I Sm 8,7). A partir de Davi, o Reino de Deus tem como representante um rei humano, mas a experiência terminou em fracasso, e o Reino de Deus acabou por ser um reino futuro-escatológico como final dos tempos e transcendente, como sendo Deus mesmo o que seria ou escolheria o novo rei. Esse Reino está chegando e tem seu representante na pessoa de Jesus e dos apóstolos. Nada tem de material ou geográfico, e é formado pelos que aceitam Jesus como Senhor, caminho, verdade e vida. Por isso, dirá Jesus que “o Reino está dentro de vocês”.

A Igreja fundada por Jesus é a parte visível desse Reino, que não é como os do mundo, mas tem sua base em servir e não em ser servido (Lc 22,27). O oposto do amor, que é serviço no Reino, é o amor ao dinheiro (Mt 6,24), de modo que podemos afirmar que o dinheiro é o verdadeiro deus deste mundo.

“E durma e se levante noite e dia; e a semente germine e cresça de um modo que ele não tem conhecido” (v. 27). É importante unir este versículo ao anterior para obter o sentido completo da parábola. O agricultor faz sua vida independente e a semente nasce e cresce sem ter nada a ver com o agricultor, fora o fato de ser semeada por ele no início. Deste modo, Paulo pode afirmar: “Eu plantei, Apolo regou; mas era Deus quem fazia crescer. Aquele que planta nada é; aquele que rega nada é; mas importa somente Deus, que dá o crescimento” (1 Cor 3,6-7). Assim, na continuação dirá Jesus: “Pois por si mesma a terra frutifica primeiramente a erva, depois a espiga, depois o trigo pleno na espiga” (v. 28).

“Como com a semente da mostarda, a qual quando sendo semeada na terra é a menor de todas as sementes sobre a terra” (v.31). A mostarda é uma planta da família da couve ou repolho, de grandes folhas, flores amarelas e pequenas sementes, que tem duas espécies principais: branca e preta. A branca chega até atingir 1,2 m de altura e a preta pode chegar até 3m e 4m de altura. As sementes não são as menores entre as conhecidas, mas parece que eram modelo, na época, de coisas insignificantes. “E quando está semeada surge e se torna maior do que todas as hortaliças e produz galhos grandes de modo que podem, sob sua sombra, as aves do céu habitar” (v. 32).

Na primeira destas parábolas temos a exposição de como o Reino se expande com uma força que não depende dos homens, mas do próprio Deus. Poderíamos dizer que descreve a força interna do Reino.

Na segunda parábola encontramos a visão externa do Reino. Seu crescimento seria espetacular desde um pequeno grupo insignificante como é a semente da mostarda – que se parece com a cabeça de um alfinete – até uma árvore que nada tem a invejar os carrascos da Palestina.

Uma certeza é evidente: o Reino é uma realidade que não se pode ignorar. Em que consiste? Jesus não revela sua essência, mas, devido ao nome, estamos inclinados a afirmar que o Reino, como nova instituição, é uma irrupção da presença de Deus na história humana, que seria uma revolução e uma conquista – não violenta mas interior do homem – e que deveria mudar a religião em primeiro lugar e as relações sociais em segundo termo.

Texto extraído da homilia diária do Padre Bantu Mendonça, site Canção Nova