domingo, 5 de maio de 2013

Maio, mês de Maria



Maio é um mês muito alegre, especialmente, para nós que amamos a Mãe de Jesus. É o mês das mães, dos trabalhadores, das flores e das crianças vestidas de anjinhos, homenageando Àquela que é considerada a Arca da Nova Aliança. Até a natureza colabora com essas homenagens, proporcionando-nos um clima ameno e perfumado, para celebrar a Mulher que, mais que qualquer outra pessoa, procurou seguir o ensinamento de Jesus: “Sede perfeitos como o Pai celestial é perfeito”.

A devoção mariana é plantada sobre os pilares da nossa fé. Antes de voltar para o Pai, Jesus deu-nos Maria como nossa Mãe. Deixou-a como um presente e modelo a ser seguido, se quisermos viver de acordo com a vontade de Deus, na plenitude do Espírito Santo.

Maria é a primeira entre os cristãos que confia e espera a salvação. Ela é a humanidade passada a limpo, pois viveu a santidade em plenitude. Maria foi a primeira cristã a ser educada pela presença do Espírito de Deus. Através do Espírito Santo, Maria, que na língua hebraica quer dizer “amada de Deus”, foi se transformando em bondade, mansidão, compreensão, silêncio e cooperativismo.

Na Anunciação, a Virgem Maria entregou-se completamente a Deus, manifestando de forma perfeita a obediência da fé, porque acreditou que “nada é impossível a Deus”. Pela fé, Maria acolheu o anúncio e a promessa trazida pelo Anjo Gabriel, o mensageiro do Altíssimo. Maria foi e sempre será um exemplo de doação, por ter colocado a própria vida à disposição de Deus. “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38). A Anunciação a Maria inaugura a "plenitude do tempo" (Gl 4,4), realiza a Nova Aliança e dá início à Boa Nova do Evangelho. “Para ser a Mãe do Salvador, Maria 'foi enriquecida por Deus com dons dignos para tamanha função” (CIC § 490).

"Bem-aventurada és tu que creste, pois se hão de cumprir as coisas que da parte do Senhor te foram ditas!" (Lc 1,45). Na grandeza de sua fé e com o coração aberto, Maria aceitou plenamente a vontade de Deus. Em virtude dessa fé, todas as gerações a proclamarão Bem-aventurada. Com Ela aprendemos que o importante não é entender os planos de Deus na nossa vida, mas nos entregarmos a Ele.

Tudo o que Maria fazia era com alegria. No Magnificat constatamos esta alegria e plenitude do Espírito Santo. “Minha alma glorifica ao Senhor, meu espírito exulta de alegria em Deus, meu Salvador” (Lc 1,46s). A humildade e a modéstia são traços marcantes da personalidade de Nossa Senhora, que sempre preferiu servir no silêncio e no anonimato. Numa atitude de amor e fé, transformou-se em discípula de Jesus.

Com sua vida, Maria ensina como o cristão deve viver e, com autoridade materna, pode nos dizer: Sigam a mesma estrada da fé que percorri e pertencerão ao povo das Bem-aventuranças, pois felizes os que, no meio da escuridão, acreditam no resplendor da Luz!

A prova mais difícil para a fé de Maria foi a do Calvário. A Mãe acreditou, esperando com toda esperança e, “de pé”, na fé, assistiu a crucificação e morte do Filho amado. Seu coração havia sido transpassado pela espada da dor. Ninguém sofreu mais que ela! Mas também nenhuma outra pessoa viveu a alegria da Ressurreição de Jesus e a promessa de Deus Pai se cumprindo como Ela!

Maria ajudou a dar Cristo ao mundo. Nós também temos a missão de ajudar a trazer Cristo ao nosso próprio mundo. Onde quer que estejamos e seja qual for a maneira como vivemos, nossa Mãe Maria está sempre atenta para nos ajudar a encontrar, em Cristo, o caminho para a casa do Pai. Nossa Senhora é a Mãe e modelo da Igreja. Ela permaneceu fiel na união com Seu Filho até a cruz, e jamais deixou de ser a serva humilde do Senhor. A Santa Madre Igreja confessa que Maria é verdadeiramente Mãe de Deus (Theotókos).

Peçamos como o Papa Francisco nos ensina: “Maria, Mulher do Sim, fazei-nos conhecer cada vez melhor a voz de Jesus e ajudai-nos a segui-la!”.

Coragem! Nossa Senhora está diante de Jesus em constante intercessão por nós e por nossas famílias. Mantenhamo-nos firmes e fiéis a Deus! Maria está presente em nossas vidas.


Katia Roldi Zavaris, Presidente do Conselho Nacional da RCCBRASIL

Carlinhos o vendedor de ovos



Carlinhos ganhava a vida vendendo ovos. Tinha aprendido o serviço com o pai e estava orgulhoso do seu trabalho. Fora do pequeno comércio dele estava escrito em letras vermelhas bem grandes: OVOS. Certo dia, uma certa pessoa entrou para dizer-lhe:
- Carlinhos, adivinha o que eu tenho na mão.
Carlinhos aceitou a brincadeira e respondeu:
- Me dê ao menos uma pista para eu poder adivinhar.
– Vou te dar mais de uma: eu tenho na mão algo que tem as aparências de um ovo, tem o gosto e o cheiro de um ovo. Tem a forma de um ovo e as medidas de um ovo. Dentro é branco e amarelo, é liquido antes de ficar cozido, mas fica mais consistente com o calor...
- Não precisa dizer mais nada; já entendi – falou Carlinhos abrindo um largo sorriso – deve ser algum tipo de doce!
Podemos rir ou chorar do pobre vendedor de ovos. No entanto podemos querer saber se o que aquela pessoa tinha na mão era de verdade um ovo. Deixando a brincadeira de lado, devemos reconhecer a facilidade com a qual podemos enganar e ser enganados pelas palavras que usamos. Às vezes, a culpa é de quem se comunica. Se não sabe se explicar bem, fica difícil entendê-lo. Outras vezes a culpa é nossa. Preferimos fingir não ter entendido ou entendemos somente o que nos agrada ou, pior, chegamos a distorcer as palavras do outro e a fazer-lhe dizer o que ele não disse. São os famosos mal-entendidos: às vezes verdadeiros, outras vezes, inventados, como saída de emergência.

No evangelho deste domingo, Jesus fala das suas palavras, aquelas que Pedro, um dia, chamou de “palavras de vida eterna” (cf Jo 6,68). No entanto também as palavras de Jesus podiam e podem ser mal-entendidas, distorcidas e jogadas fora. Se não tomamos cuidado podemos fazer Jesus dizer alguma coisa e depois fazer-lhe afirmar exatamente o contrário. Quantas vezes apelamos a palavras do Velho e do Novo Testamento para justificar atitudes e decisões que de cristão tem pouco ou nada. Na hora da desculpa, até a Palavra de Deus, lida do nosso jeito e a nosso favor, serve.

É neste sentido, me parece, que Jesus fala de dar ouvido e guardar as suas palavras com amor. Precisa do amor em primeiro lugar para estarmos abertos a escutar o que o outro tem para nos dizer. Amor é atenção, disponibilidade, acolhida. O amor sincero procura entender, não julgar, não se deixa enganar pelos pré-conceitos. O amor confia nas palavras do outro e as considera preciosas, por isso elas devem ser guardadas para poder ser lembradas na hora certa, para tornar o outro presente através das suas palavras. São as lembranças; a memória de quem amamos.

Mas tem outra razão: o amor permite compreender o outro além das palavras que ele nos diz. Elas também são limitadas, nunca expressam tudo aquilo que gostaríamos dizer, sobretudo quando o que queremos dizer é tão importante, tão grande, que nenhuma palavra o poderia conter. Multiplicar as palavras também seria inútil, nada acrescentaria. Quando duas pessoas dizem que se amam, naquela palavra está contido muito mais do ela diz. Lá está o desejo de união, está o projeto de suas vidas para que se tornem uma vida só. Lá está a partilha dos sentimentos, dos sonhos, das vitórias e das derrotas. Quando Jesus dizia a alguém que estava perdoado dos seus pecados lá estava também o amor do Pai, a festa do retorno a casa, a dignidade recuperada, o início de uma vida nova. Somente o amor preenche o não dito. É o amor que faz lembrar muitas outras palavras, os momentos passados juntos, a alegria da comunhão e a tristeza da falta. É por isso que Jesus ensinou que também na oração não devemos multiplicar tantas palavras. O amor se cala porque não consegue mais dizer tudo o que sente. Somente contempla e ama.

Infelizmente tudo isso vale também para o mal. Quantas vezes lembramos as palavras que nos machucaram para reavivar o ódio e deixar que a amargura envenene a nossa vida.

Ao Carlinhos da história faltou esperteza, a nós, muitas vezes, falta mesmo o amor.

 

Dom Pedro José Conti, Bispo de Macapá (AP)