domingo, 25 de agosto de 2013

Volta à moda a ternura e a bondade




Uma pessoa do porte do Bispo de Roma, sucessor de Pedro, bate à porta do coração de milhões de pessoas, beija crianças, toma chimarrão no meio da multidão, tem em sua história diálogos com homens e mulheres de convicções diferentes, manda uma mensagem aos Muçulmanos, pelo final do Ramadã, abrindo portas para uma convivência respeitosa e construtiva, conversa sem rodeios com jornalistas que lhe fazem perguntas aparentemente incômodas, sem ceder em seu compromisso com a verdade e em sua fidelidade à Igreja. É o mesmo Papa que chama por telefone um fiel que perdeu um irmão num assalto, na Itália, ou visita de surpresa os operários do Vaticano em seus postos de trabalho! Com santo orgulho, podemos dizer que o Espírito Santo tomou a palavra, para os cristãos oferecerem ao nosso tempo o que existe de melhor! Trata-se de um sinal de valores dos quais a humanidade vinha sentindo saudades. Volta à moda a ternura e a bondade, caminhos inigualáveis para a mudança profunda. Não é difícil entender que Deus escolhe o que parece insignificante, gestos simples do quotidiano, para tocar no mais íntimo das pessoas.



Ao lado de muitos gestos que revelam as opções pastorais nas quais deseja envolver a Igreja inteira e têm edificado o mundo, o Papa Francisco tem testemunhado sua profundidade espiritual, como bom jesuíta. Chama também atenção sua profunda devoção mariana, expressa em manifestações de religiosidade que tocam no coração de nosso povo. Apenas eleito Papa, seu primeiro ato público foi a visita à Basílica de Santa Maria Maior, em Roma, para entregar seu pontificado a Nossa Senhora, onde voltou, após a Jornada Mundial da Juventude. O Brasil inteiro se viu ali representado, quando depositou sobre o Altar nada menos do que uma bola de futebol e uma camisa da Jornada! No Brasil, quis visitar o Santuário Nacional de Aparecida, confiando à proteção de Nossa Senhora os dias que se seguiram na história viagem ao nosso país. No último dia da Jornada, quando lhe entreguei uma imagem de Nossa Senhora de Nazaré, era como uma criança que ganhava um presente, perguntando-me singelamente: "É para mim?". E beijou a Imagem. As alturas do pontificado são pontes que se constroem com a simplicidade de gestos e palavras que não precisam de explicações!



Mais do que as múltiplas formas com que a arte tem retratado a Virgem Maria, ou os tantos títulos com que a devoção popular a venera, sua missão há de ser reconhecida pelo lugar que lhe foi reservado na história da Salvação. O papel de Maria na Igreja é inseparável de sua união com Cristo, que se manifesta desde a hora da Concepção virginal de Cristo até sua Morte, Ressurreição e Ascensão ao Céu. Maria percorreu sua peregrinação de fé, manteve fielmente sua união com o Filho até a cruz, onde esteve de pé, sofreu intensamente junto com ele e associou-se ao seu sacrifício. E foi dada pelo próprio Jesus, aos pés da Cruz, como mãe ao discípulo com estas palavras: "Mulher, eis aí teu filho" (Jo 19,26-27). Após a Ascensão de seu Filho, Maria acompanhou com suas orações a Igreja nascente, pedindo e acolhendo o dom do Espírito, que, na Anunciação, a tinha coberto com sua sombra (Cf. Catecismo da Igreja Católica 964-965).



Maria é Mãe da Comunidade que constitui o Corpo místico de Cristo e acompanha os seus primeiros passos. Ao aceitar essa missão, anima a vida da Igreja com a sua presença, grande sinal oferecido a todas as gerações de cristãos. Essa solidariedade vem de sua pertença à comunidade dos remidos. Com efeito, ela teve necessidade de ser remida, pois está associada a todos os homens necessitados de salvação (Lumen Gentium 53). O privilégio da Imaculada Conceição preservou-a da mancha do pecado, em previsão dos méritos de Cristo. Como membro da Igreja, Maria põe ao serviço dos irmãos a sua santidade pessoal, fruto da graça de Deus e da sua fiel colaboração. A Imaculada Conceição é para todos os cristãos apoio na luta contra o pecado e perene encorajamento a viverem como remidos por Cristo, santificados pelo Espírito e filhos do Pai (Cf. João II, Audiência geral do dia 30 de julho).



Verdadeira joia do ensinamento da Igreja a respeito da Virgem Maria, um Sermão do Bem-aventurado Isaac, abade do Mosteiro de Stella, no Século XII, aproxima de forma admirável a Igreja, Nossa Senhora e cada fiel: "Nas Escrituras divinamente inspiradas, o que se atribui de modo geral à Igreja, virgem e mãe, aplica-se particularmente a Maria. E o que se atribui especialmente a Maria, virgem e mãe, pode-se com razão aplicar de modo geral à Igreja, virgem e mãe... Além disso, cada alma fiel é igualmente, a seu modo, esposa do Verbo de Deus, mãe de Cristo, filha e irmã, virgem e mãe fecunda. É a própria Sabedoria de Deus, o Verbo do Pai, que aponta ao mesmo tempo para a Igreja em sentido universal, Maria num sentido especial e cada alma fiel em particular... No tabernáculo do seio de Maria, o Cristo habitou durante nove meses; no tabernáculo da fé da Igreja, habitará até o fim do mundo; e no amor da alma fiel, habitará pelos séculos dos séculos". Não é possível separar Igreja, Maria e os homens e mulheres de fé!



Entende-se assim porque cada discípulo verdadeiro de Cristo levará consigo Maria entre aquilo que lhe pertence de mais precioso, para caminhar seguro, certo de que a mãe bendita entre todas as mulheres já chegou à realização de todas as esperanças. Profeticamente, a própria Virgem Maria anunciou que todas as gerações a chamariam bem-aventurada (Lc 1,48). E ela é  honrada com um culto especial pela Igreja. Este culto de veneração é essencialmente diferente do culto de adoração que se presta ao Verbo encarnado, ao Pai e ao Espírito Santo. Ele se expressa nas festas litúrgicas dedicadas à Mãe de Deus, na oração Mariana, no Santo Rosário, resumo de todo o Evangelho (Cf. Catecismo da Igreja Católica 971), e em tantas outras e importantes formas que o Espírito Santo suscita por toda parte.






Dom Alberto Taveira Corrêa, Arcebispo de Belém do Pará

Leitura Bíblica: Lucas 13, 22-30




Os que desejam seguir o Senhor não conhecem descanso. Sinceros e decididos não cessam de se interrogar a respeito do modo como andam vivendo seus dias “cristãos”, sobre a melhor maneira de seguir o Senhor.  Acompanhemos passo a  passo o evangelho de Lucas hoje proclamado.

Jesus dirige-se a Jerusalém. Alguém coloca-lhe uma pergunta:  “São poucos os que se salvam?”  Não é assim tão evidente e tão simples a resposta à questão da salvação, da consecução da meta final. A pergunta tinha sentido. Antes de mais nada será preciso passar pela porta estreita ou seja pelo esforço, pelo empenho.  Os que querem essa vida plena e eterna sabem que há um labor a ser executado. O discípulo deseja realmente ser do Senhor e não se importará em privar-se do supérfluo,  deixar de lado seus interesses e eventuais situações de comodidade.  Passará pela porta estreita da rejeição de uns e da indiferença de  outros.

Porta estreita pode ser ligada à educação que o Senhor costuma dar aos que ama como diz a Carta aos Hebreus: “Meu filho, não desprezes a educação do Senhor, não desanimes quando ele te repreende; pois o Senhor ama a quem ele corrige e castiga, a quem aceita como filho. É para vossa educação  que sofreis e é como filhos que Deus vos trata” (Hb 12, 5-7).

Lucas continua. Há um tempo de espera. E o tempo termina.  “Uma vez que o dono da casa se levantar e fechar a porta, vós, do lado de fora, começareis a bater, dizendo: Senhor, abre-nos a porta. Ele responderá: Não sei de onde sois”.  Os discípulos caminham pela vida, trabalham, se casam, colocam filhos no mundo. No meio de tudo isso precisarão ficar atentos e vigilantes. Não podem ser  discípulos por costume e ponto final.  Lucas continua, colocando questionamentos na boca que se veem excluídos:  “Como, Senhor, não sabes de onde somos?  Comemos e bebemos  diante de ti, tu  ensinaste em nossas praças”. Não basta apenas uma pertença formal e fria ao Senhor. Será preciso consciência de seguimento e ardor nos gestos e palavras.  Os que têm constante familiaridade com o Senhor, aqueles que cultivam delicadeza de consciência e de coração, os que estão atentos ao hoje das manifestações do Senhor serão salvos, serão bem sucedidos na empreitada do seguimento do Senhor.  O ser cristão não é uma espécie de coisa mágica que leva à salvação.  Não basta recitar o credo, participar meio mecanicamente  da missa, salpicar a vida com preces e ritos. Será preciso a inteireza do coração.  O ser cristão não é um meio mágico de salvação.  Esta última  é o resultado do encontro entre o esforço humano e o dom de Deus.   Jesus alerta que há pessoas  batendo à porta da salvação. Serão impedidas, porque não praticam  a justiça.

Frei Almir Ribeiro Guimarães