quinta-feira, 19 de abril de 2012

Prudência no falar


Não peneire o grão em qualquer vento, nem siga por qualquer direção. Seja constante no modo de pensar e coerente na maneira de falar. Esteja pronto para ouvir e lento para dar a resposta. Se você for capaz, responda a seu próximo; se não for, fique calado. Falar pode trazer honra ou desonra, e a língua do homem é a sua ruína. Não tenha fama de caluniador, nem use a língua para preparar armadilhas, porque para o ladrão existe a vergonha, e para o homem falso uma condenação severa. Evite erros grandes e pequenos, e de amigo não se transforme em inimigo.

Eclesiástico 5,9-15

O olhar do amigo destrói o mal dentro de nós


Todo ser humano, em alguns determinados momentos de sua história, acaba se percebendo frágil e diante de notórias dificuldades. Isso é comum e próprio de qualquer experiência de existência. Contudo, é verdade que, em momentos de ausência e fragilidade, algumas específicas presenças podem trazer um conforto único e todo especial para o coração.

O que acaba atenuando certas dores que experienciamos não é tanto a intensidade com que estas acontecem, mas a ausência de presenças que nos amparem e sustentem nesses específicos momentos. Não são tanto os problemas que realizam o ofício de nos destruir, mas sim a ausência de apoio e motivação diante deles, ou seja, a ausência de sadias e confortadoras presenças a nos encorajar diante dos obstáculos apresentados a nós pelas circunstâncias.

Quão bem faz ao coração o olhar e a presença de um amigo diante de um momento de dor. Mesmo que ele nada diga, apenas o olhar daqueles que nos amam já tem o poder comunicar a força de que necessitamos para a superação. Nesse encontro (amizade) as dores ganham um novo sentido e o vazio é revestido por vida e presença.

Sem dúvida alguma, a experiência de interação e de uma sincera amizade é necessária e recomendável à saúde emocional de qualquer pessoa. O próprio Jesus fez questão de ter amigos e de cultivar intensamente Suas amizades, assim revelando a essencialidade dessa realidade.

Em Seus principais momentos, tanto de alegria como de tristeza, Cristo teve amigos ao Seu lado com quais pôde repartir o que vivenciava. Pessoas que se tornaram os depositários de Seus silenciosos e profundos segredos de amor, os quais foram posteriormente a nós revelados por esses amigos fiéis.

É preciso descobrir e cultivar a amizade, mesmo diante de desencontros e diferenças, pois essa bela experiência tem a força de nos libertar do egoísmo e nos completar de forma extremamente realizadora e significativa.

A palavra do amigo descomplica nossas agitações, de forma a desmistificar nossos fantasmas e, assim, revelar a inverdade dos medos e ilusões que insistimos em fabricar. A presença dele torna até o sofrimento suportável e uma fonte crescimento e maturação. O seu olhar tem o poder destruir o mal em nós, fazendo nascer no coração uma singela esperança.

Quando não temos amigos com os quais partilhar o que somos e experienciamos, tudo acaba se tornando mais confuso e pesado para nós. A verdadeira amizade nos dá possibilidade de termos fardos mais leves, pois partilhados com pessoas que nos conhecem e para as quais não precisamos constantemente nos justificar.
Precisamos viver sem receio essa rica e profunda experiência. Contudo, não poderemos eleger como “amigos” aqueles que, de fato, não o são e que não nos levam para o bem, pois, ao contrário, colheremos a decepção e a insatisfação como fruto dessa irrefletida escolha.

É preciso assumir na própria história os amigos que verdadeiramente são amigos estabelecendo com eles uma profunda interação, na qual se dá e se recebe, na qual falamos e também somos capazes de escutar. Assim nossa vida será mais completa e as dores mais possíveis de se enfrentar, pois toda a ausência presente no ser poderá ser perenemente preenchida, acompanhada por olhares que nos compreendem e que escolheram em nós acreditar.

Vivamos sem medo essa linda experiência!

Padre Adriano Zandoná, Canção Nova