Sementes e
sementeiras
Há textos do
Novo Testamento muito conhecidos, que voltam sempre de novo, muitas vezes, em
diversos momentos da vida litúrgica da Igreja. Penso aqui, de modo
particular, na famosa parábola da semente e dos terrenos.
O Senhor fala,
nos fala. A Palavra é a semente. A Palavra do Senhor, ou o Senhor da
comunicação, quer estabelecer comunhão conosco. A Palavra morrendo em nosso
interior cria um estado de comunhão. Nosso interior, o mais íntimo de nós
mesmos, é o lugar das decisões. É terra de acolhimento da Semente.
E o Altíssimo
nos fala. Pode ser que a semente caia em terra dura, em terreno
pedregoso, no meio de espinheiros ou em terra boa.
Há esse
caminho de todos os dias, batido, pisado. Há esses corações insensíveis que
vivem no meio de ruídos fortes, ruídos de fora, ruídos de dentro. Não escutam.
Escutam os sons da palavra mas seu interior não tem ressonância. Estão
sempre com seus fones de ouvido, não querem ouvir, não querem dar uma
informação, não estão disponíveis para Deus. Vão caminhando ouvindo o que lhes
interessa.
Há
a semente que cai no caminho pedregoso. As pessoas ouvem. Há uma
camada de terra relativamente suficiente para a semente morrer, crescer e dar
fruto. Por ocasião de um retiro espiritual, de uma homilia alguém tem o coração
sensibilizado. Dedica-se mais à oração, projeta gestos largos e generosos de
caridade. Mas o terreno não tem profundidade. São as pessoas que assumem
este ou aquele compromisso, fazem profissão de vida religiosa consagrada ou
outro tipo, mas não leem mais, não visitam seu interior, estão sempre
derramadas nas coisas, twitter e companhia limitada, sempre na
superficialidade. A Palavra não pode operar maravilhas.
Há esse outro
terreno… terra boa. A semente, a palavra, a exortação, a inspiração
divina, as falas que nascem do Mistério… As pessoas ouvem, mas há espinheiros
que sobrevoam as existências. Alguns são profundamente sensuais, outros
orgulhosos, outros por demais autossuficientes… e a Palavra não produziu
seus efeitos.
Transcrevemos
as sempre oportunas reflexões apresentadas no Missal Cotidiano da Paulus: “Eis
uma homilia feita por Jesus sobre sua parábola. Nela figuram quatro categorias
de pessoas, segundo a atitude assumida no ato de escutar a palavra de
Deus. Há os que ouvem com planos próprios, sem muita disponibilidade para
se questionar com a palavra. Outros, superficiais, ouvem levianamente e
levianamente a esquecem. Muitos não têm tempo para tirar as conclusões da
palavra porque têm muito que fazer. Alguns, finalmente, refletem sobre a
palavra ouvida e se dispõem a “mudar” com disponibilidade mais ou menos
ampla, que só Deus pode medir” (p. 1067)
Frei Almir Ribeiro Guimarães