terça-feira, 9 de outubro de 2012

Esperar


Às vezes já me perguntei porque Deus gosta tanto da esperança, pedindo-nos continuamente que esperemos nele. Aos poucos estou descobrindo a resposta. Continuar esperando, apesar de tudo se tornar sempre mais difícil e de a evidência desmentir sistematicamente a expectativa, significa acreditar mais em Deus do que na evidência dos fatos; significa continuar reconhecendo a Deus um direito a mais, uma possibilidade a mais. Significa dar-lhe crédito. Digo que se, por absurdo, Deus não tivesse pensado antes em criar o paraíso, iria criá-lo porque seus filhos o esperam. Que pai, descobrindo que o filho tem certeza de receber um presente no Natal, no qual ele nem tinha pensado, não iria correndo providenciar esse presente para não decepcioná-lo? Uma criatura humana pode ter medo e não querer que se espere mais dela, porque conhece seu limite e sabe que, mesmo querendo, não poderá corresponder sempre às esperanças nela colocadas. Mas Deus não; Deus não tem problemas assim. Por isso, longe de ficar aborrecido pelo fato de se esperar demais nele, ele o deseja e espera. “Até agora – diz Jesus – nada pedistes (cf. Jo 16,24); tudo quanto pedirdes, orando, crede que o recebereis (isso é esperar!) e o obtereis” (cf. Mc 11,24)


Do Livro “Maria – um espelho para a Igreja”, Frei Raniero Cantalamessa

Leitura Bíblica: Lucas 10, 38-42


“Marta, Marta! Tu te preocupas e andas agitada por muitas coisas. Porém, uma só coisa é necessária. Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada” (Lc 10,41-42).

Hoje, a Palavra nos chama a contemplar o famoso evangelho de Maria e Marta. Não é fácil abordar de maneira correta esta página do Novo Testamento e aqui colocarei apenas a minha impressão sobre ele.

Sabemos que Marta e Maria, juntamente com o irmão Lázaro, foram amigos íntimos de Jesus. Hospedaram Jesus. Queriam servir bem a Jesus. No episódio do evangelho de hoje, Maria não se preocupa tanto com a hospitalidade, prefere sentar-se aos pés de Jesus. Marta, mulher trabalhadora, dona de casa, que tem prazer em receber as visitas, desmanchando-se em cortesias, repreende Maria. E Jesus, em tom de amigo, chama a atenção de Marta: “Marta, Marta!...”

Há uma Marta em cada um de nós, mas há também uma Maria. Temos tarefas urgentes a cumprir e precisamos realizá-las com competência. E nos preocupamos por não encontrar tempo para contemplar Jesus, para ouvi-Lo. Hoje Jesus vem chamar a nossa atenção: “Filho, filha, não se agite tanto. Escute a minha voz, ouça as minhas palavras... Um coração calmo é aquele capaz de ouvir o meu chamado. Pare um pouco e ouça o que eu digo, medite as minhas palavras e só assim poderá cumprir as suas atividades com alegria. Eu sou a paz, eu sou o amor, eu sou a alegria!”

Depois de conhecer um pouco da vida dessas duas mulheres que faziam parte do círculo de amigos de Jesus (lembram o episódio da morte de Lázaro, narrado em João 11,1-44?), somos tentados a condenar as Martas e absolver as Marias e deixar de aprender lições tão preciosas vindas de Jesus. O Senhor ama tanto as Marias como as Martas. Ele escolheu ambas para serem suas amigas: “Ora, amava Jesus a Marta, e a sua irmã, e a Lázaro” (Jo 11,5).

Precisamos aprender a conviver com essas duas mulheres existentes dentro de nós. O mundo em que vivemos é o mundo da agitação, da correria, da busca da perfeição, mas não precisamos ceder à tentação de correr, pois a nossa alma não irá suportar. Se queremos ser pessoas espiritualizadas, se faz necessário que separemos tempo para voltar aos pés de Jesus e ouvir novamente suas palavras. Reencontrar as prioridades da vida, aprender a chorar aos pés de Jesus, reaprender a confiar nele.

“A Marta que existe em nós haverá de conviver com a Maria e a Maria, com a Marta. Contemplação na ação e atividade na contemplação. Quem puder compreender que compreenda” (Frei Almir Ribeiro Guimarães)


Maria, mãe do Bom Conselho, rogai por nós!