“Quanto
a ti, uma espada te traspassará a alma” (Lc 2,35b)
Os fiéis de
todos os tempos veneram com carinho a Senhora das Dores perpetuada na
belíssima escultura da Pietà de Michelangelo. Ao pé da cruz ela é ao mesmo
tempo a Senhora das dores e aquela que, com o Filho, entrega-se ao Pai na
confiança.
Maria das
Dores nos lembra tantas outras Marias que andam à nossa volta: Maria
José, Maria Clara, Maria da Penha. Todas elas marcadas por dores
doloridas e doídas. Há a Maria que tem um filho na prisão.
Todas a semanas ela se dirige à cadeia para ver o filho, rezar meia dúzia de
rezas e levar-lhe um bife à milanesa e um pedaço de torta de limão ou de
maracujá. Cada vez que ela volta para casa reza com confiança
os mistérios dolorosos do terço de Nossa Senhora. Há a Maria mulher
de um marido quase irresponsável, fraco, homem sem fibra. Há essa Maria
que vai sozinha à missa, lamentando a ausência do marido e dos filhos que a
classificam de beata e nunca mais se interessaram pelo evangelho.
Quando começou
a se urdir o drama do Calvário talvez Maria estivesse em Nazaré. Como
era o tempo da Páscoa vem com parentas e amigas à capital religiosa de seu
povo. Passa, então, a acompanhar os últimos momentos da trajetória de
Jesus. Está ao pé da cruz, como um soldado de prontidão. Tem o vento da
planície a afagar-lhe o rosto. Aos poucos todos, diante do “fracasso” de Jesus,
começam a se retirar… Ela e o discípulo permanecem no quadro da suprema
realização da redenção. Segundo João, Jesus lhe dá como filho à Mãe e a
João, a Maria, como Mãe… Maria tem as mãos apoiadas no madeiro da cruz,
cravando na cruz suas unhas. Ouve o filho rezar o salmo: “Meu Deus, meu
Deus porque me abandonaste?”. Faz-se uma única oferenda com a oferenda do
seu Menino das Palhas. Depois que o Filho expira entra no
mistério do silencio, sem revolta, silêncio misterioso. Dizer o
que? Para que? Pode-se imaginar que, depois que o Filho foi descido
da cruz, tenha sido colocado em seu regaço. Ela como que tenta aquecer o
corpo gélido daquele que ela havia enrolado em paninhos quentes… Maria
poderia fazer suas as palavras da Escritura antiga: “Ó vós que passais
pelo caminho, vede se há dor igual à minha dor”. Talvez naqueles
momentos finais ela se tenha lembrado das palavras do velho Simeão: “Teu
coração será traspassado por uma espada de dor”. Maria, a sublime e
grandiosa Senhora das Dores.
Frei Almir Ribeiro Guimarães