quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Com Deus tem jeito


Quero lhe falar de uma história real. Trata-se da vida de um jovem que, aos 25 anos de idade, não tinha mais nenhuma perspectiva, não conseguia ver esperança, era só um vazio existencial.

Os dias iam passando e o desespero aumentava
no coração dele por não avistar uma saída. A entrada para o mercado de trabalho lhe parecia muito difícil, Sem faculdade e sem currículo, quem o contrataria e quanto ganharia? Pois quem ganha bem é quem tem um excelente currículo e uma boa formação acadêmica, pensava este jovem. Casar-se e formar família também era complexo, já que não conseguia dirigir sua própria vida; então, não conseguia mirar uma vida de fidelidade a partir de uma única mulher. Outro ponto se tornava mais distante ainda: ter filhos e dar a eles uma educação moral e cristã.

Situações que resultavam numa conclusão: sem perspectiva profissional e sem perspectiva de ser bom esposo e bom pai. Além desses fatos, tinha jogado fora todas as oportunidades que estiveram em suas mãos, uma delas a carreira profissional de jogador de futebol de salão. O mais complicado para este jovem era achar que não tinha mais jeito de dar a volta por cima, não existia esperança em sair do caos.

Não sei a sua idade nem quais são as suas perdas. Só sei de uma coisa: em meio a uma situação de desesperança, é hora de tomar cuidado para não perder os valores da alegria e da esperança.

Há uma música que diz: “reconhece a queda e não desanima; levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima”. Jovem, é preciso reconhecer a queda, reconhecer a perda, reconhecer-se pequeno, mas não desanimar. É preciso ter consciência de que para levantar e dar a volta por cima é preciso o auxílio do Alto, do Céu. Levante a cabeça, acredite, é possível começar um tempo novo! Levantar-se sem Deus é arriscado e levantar-se com Ele é humildade.

“A alegria do coração é a vida da pessoa, tesouro inesgotável de santidade, a alegria da pessoa prolonga-lhe a vida. Tem compreensão contigo mesmo e consola teu coração; afugenta para longe de ti a tristeza. A tristeza matou a muitos e não traz proveito algum.” (Eclo 30,23-25).

Essa passagem bíblica nos apresenta um valor que deve ser cultivado: a alegria. Jovem, não deixe que nenhuma perda lhe roube a alegria. Somente a perda de Jesus é que deve nos questionar, pois Ele diz: “sem mim, nada podeis fazer”. Viver a vida sem Cristo é perder a esperança de dias melhores.

Jesus é o seu amigo e está junto de você nestes momentos tão difíceis. Ele é o único que não pode se fazer presente na sua lista de perdas. “Eu vos chamo amigos” (Jo 15, 15). O lindo desafio para este dia é virar a folha e começar a escrever um tempo novo. Coloque, no início dessa folha, “Jesus é meu amigo” e isso me basta para dar a volta por cima.

Este jovem, hoje, tem 43 anos de idade, é casado há 15 anos e tem três filhos. Este jovem sou eu! Hoje sou “semeador de alegria e esperança” e aprendiz em descobrir valor em meio às perdas. Não me canso de repetir: “Com Deus tem jeito!”

Cleto Coelho, Missionário da Comunidade Canção Nova

Leitura Bíblica: Lucas 6, 20-26


Todas as páginas dos evangelhos são encantadoras.  Muitas delas, é verdade, são severas e exigentes, mas sempre expressão das entranhas do  Filho de Deus que veio morar em nossa casa e nos confidenciar os segredos do coração do Pai. Entre todas as palavras do Novo Testamento certamente  as que constituem o Sermão da  Montanha na versão de Mateus ou da Planície no texto de Lucas encerram o “miolo”  da Boa Nova.  Mais ainda:  a introdução a este sermão, o famoso texto das bem-aventuranças,  marcou definitivamente a espiritualidade de milhões de pessoas. Na liturgia de hoje ouvimos as  Bem-aventuranças na versão de Lucas.

Sermão da felicidade, da bem-aventurança, do paradoxo, de uma felicidade que, à primeira vista, nada tem de felicidade.

Felizes os que não se consideram centro do mundo, os que vivem alegremente sua dependência do Senhor e dos outros, os que não impõem suas ideias particulares, os que têm certeza que de graça tudo receberam e tudo restituem  porque são indigentes  cobertos de bens, de amigos, de intimidades.  Eles lutam, trabalham mas se sentem seguros nas mãos do Senhor, na palma da  Providência.  Pode mesmo acontecer que eles não sejam levados em consideração, mas não sofrem com isso. Sabem que são servos inúteis. Eles lembram um pouco aquilo que Francisco de Assis queria que fossem seus frades:  irmãos menores, que não chamam atenção para si… São pobremente livres. Estes são os verdadeiros felizes.

Felizes os que experimentam fome e sede.  Talvez mesmo sede de água e fome de pão. Mas sobretudo que estão sempre dando um passo a diante, sempre insatisfeitos com o que já conseguiram na busca da espiritualidade. Quando pensam no Senhor, pensam nele com desejo.  Quando leem as Escrituras querem  “comer” sofregamente  tais  palavras que  podem alimentar sua vida.   Felizes os quem vivem do desejo.

Felizes os que choram. Paradoxal que o  Evangelho enalteça o sofrimento. Há pessoas que choram porque tomam consciência de seus pecados e de seu distanciamento de Deus.  Felizes as mães que choram porque seus filhos voltaram ao bom caminho.  Felizes as lágrimas vertidas quando juntamos nossas dores às dores daquele que, no alto da cruz, não tinha mais lágrimas para verter. Felizes os que choram.

Bem-aventurados os que são capazes de sofrer por causa do Evangelho, os que tiverem força de não negar o amor de Cristo. Os que assim agem se colocam na esteira dos profetas que quase nunca eram bem acolhidos. Felizes os que forem delicada, alegre e persistentemente discípulos do Senhor. Ninguém poderá lhes tirar tal alegria.


Frei Almir Ribeiro Guimarães