No início de um novo ano, Geovani Vicente Ferreira, 33 anos, tomou um táxi e
indicou o lugar para onde desejava ir. Lá chegando, foi informado de que a
corrida custara R$4,64. Geovani pagou somente R$4,60, mas o taxista exigiu os
quatro centavos que faltavam. Geovani entregou uma moeda de cinco centavos e
passou a exigir seu troco: exatamente um centavo. O taxista disse que não tinha
uma moeda desse valor e que não iria dar o troco. Os ânimos foram ficando
acirrados, até que o passageiro desistiu do seu troco e saiu com raiva do táxi,
batendo a porta com toda a força. O taxista não se conteve e deu um tiro,
matando o passageiro. O que leva uma pessoa a chegar a esse grau de
intolerância? Como a vida pode chegar a valer apenas um centavo?
Estamos diante de um fato extremo, mas que nos faz pensar. Dificilmente alguém
de nós chegaria tão longe, mas é possível que você já tenha dito poucas e boas
para aquele carro que fechou o seu ou demorou demais para sair com o semáforo aberto.
Você pode ter levantado a voz com aquela pessoa que estava atendendo a fila sem
pressa. A verdade é que a intolerância é um mal muito presente no mundo
estressado em que vivemos. Queremos tudo para ontem. Ficamos viciados na
impaciência.
Coloque, nesse contexto, um pouco de arrogância e violência. Aí está a mistura
explosiva. O resultado pode ser verificado no jornal nosso de cada dia. Guerra,
sangue, violência.
Os intolerantes perdem a capacidade de sorrir e procuram seu refúgio no mau
humor e na ignorância. A inteligência não consegue sobreviver nesse canteiro de
ervas daninhas. Terroristas, assassinos e traficantes precisam usar o capuz,
esconder o rosto, evitar fazer algum raciocínio, pois se arriscariam a
descobrir que sua atitude é totalmente idiota e sem sentido. É por isso que
aqueles que estão interessados no lucro que a intolerância pode gerar estimulam
o fundamentalismo, que é a ignorância em sua forma religiosa. Então, você tem
aqueles que matam e morrem em nome de Deus.
Atenção: há formas de terrorismo presentes nas salas de aula, nas casas e nas
ruas. A intolerância pode aflorar até em um táxi qualquer, por um mero centavo.
Há pais intolerantes com seus filhos e vice-versa. Há professores que são um
verdadeiro terror para os alunos, e há alunos que fazem o terror de seus
mestres. Precisamos dar um basta. Se ficarmos em silêncio sempre, teremos
apenas que chorar os mortos. Devemos anunciar a solidariedade e a paz.
A calma, a compreensão, a compaixão, o diálogo, o humor e o amor são as raízes
dessa atitude profunda que chamamos de tolerância. Não me entenda mal, tolerar
não significa deixar as coisas como estão, colocar panos quentes, aceitar o
reinado dos maus. Já se falou muito em “tolerância zero”. Não devemos tolerar o
pecado. Mas precisamos atirar no pecador? Não precisamos perdoar a dívida de R$
10 mil. Mas precisamos gastar tanta adrenalina por um centavo? Pense nisso!
Do livro “Pronto, Falei”, de Padre Joãozinho