segunda-feira, 20 de maio de 2013

#FicaAdica 84




Recolher significa colher outra vez, respigar, refazer algo no silêncio… Assim aprendemos a nos recolher para re-tomar, para re-começar, para re-propor. Desta mesma maneira, a noite é o espaço do recolhimento do dia, onde a flor é preparada para desabrochar no alvorecer, onde os pássaros se escondem para saudar o dia numa grande alvorada. No recolhimento experimentamos a reflexão, a meditação, o sono: o refazer das forças!

Penso que devemos aprender que cada dia, para ser intenso, precisa de um preparandum, de uma noite, de pouca luz, do orvalho da madrugada! Desta maneira vamos acolhendo cada tempo, cada momento na sua totalidade, na sua beleza, no seu esplendor. A lua cheia encanta porque é brilhante e suave: podemos olhar para ela sem queimar os olhos… Ela encanta porque prateia, porque clareia, porque faz surgir canções… Ela encanta porque tem o sol atrás de si…

Frei Paulo Sérgio, ofm

O preço da intolerância



No início de um novo ano, Geovani Vicente Ferreira, 33 anos, tomou um táxi e indicou o lugar para onde desejava ir. Lá chegando, foi informado de que a corrida custara R$4,64. Geovani pagou somente R$4,60, mas o taxista exigiu os quatro centavos que faltavam. Geovani entregou uma moeda de cinco centavos e passou a exigir seu troco: exatamente um centavo. O taxista disse que não tinha uma moeda desse valor e que não iria dar o troco. Os ânimos foram ficando acirrados, até que o passageiro desistiu do seu troco e saiu com raiva do táxi, batendo a porta com toda a força. O taxista não se conteve e deu um tiro, matando o passageiro. O que leva uma pessoa a chegar a esse grau de intolerância? Como a vida pode chegar a valer apenas um centavo?
 
Estamos diante de um fato extremo, mas que nos faz pensar. Dificilmente alguém de nós chegaria tão longe, mas é possível que você já tenha dito poucas e boas para aquele carro que fechou o seu ou demorou demais para sair com o semáforo aberto. Você pode ter levantado a voz com aquela pessoa que estava atendendo a fila sem pressa. A verdade é que a intolerância é um mal muito presente no mundo estressado em que vivemos. Queremos tudo para ontem. Ficamos viciados na impaciência.
 
Coloque, nesse contexto, um pouco de arrogância e violência. Aí está a mistura explosiva. O resultado pode ser verificado no jornal nosso de cada dia. Guerra, sangue, violência.
 
Os intolerantes perdem a capacidade de sorrir e procuram seu refúgio no mau humor e na ignorância. A inteligência não consegue sobreviver nesse canteiro de ervas daninhas. Terroristas, assassinos e traficantes precisam usar o capuz, esconder o rosto, evitar fazer algum raciocínio, pois se arriscariam a descobrir que sua atitude é totalmente idiota e sem sentido. É por isso que aqueles que estão interessados no lucro que a intolerância pode gerar estimulam o fundamentalismo, que é a ignorância em sua forma religiosa. Então, você tem aqueles que matam e morrem em nome de Deus.
 
Atenção: há formas de terrorismo presentes nas salas de aula, nas casas e nas ruas. A intolerância pode aflorar até em um táxi qualquer, por um mero centavo. Há pais intolerantes com seus filhos e vice-versa. Há professores que são um verdadeiro terror para os alunos, e há alunos que fazem o terror de seus mestres. Precisamos dar um basta. Se ficarmos em silêncio sempre, teremos apenas que chorar os mortos. Devemos anunciar a solidariedade e a paz.
 
A calma, a compreensão, a compaixão, o diálogo, o humor e o amor são as raízes dessa atitude profunda que chamamos de tolerância. Não me entenda mal, tolerar não significa deixar as coisas como estão, colocar panos quentes, aceitar o reinado dos maus. Já se falou muito em “tolerância zero”. Não devemos tolerar o pecado. Mas precisamos atirar no pecador? Não precisamos perdoar a dívida de R$ 10 mil. Mas precisamos gastar tanta adrenalina por um centavo? Pense nisso!

 
Do livro “Pronto, Falei”, de Padre Joãozinho