quarta-feira, 19 de junho de 2013

Pssssiiiiiiiu! Silêncio!

Se um homem deixa o barulho e a agitação do mundo e procura no silêncio o seu descanso, Deus se manifesta para ele. Deus prefere se mostrar na suavidade da brisa a se mostrar no estardalhaço do trovão. Para tomar consciência de Sua presença que nos envolve e escutar Sua voz, é necessário acalmar a tempestade, fazer calar as vozes que ribombam em nossa cabeça. Na oração, Deus fala. Deus escuta, mas também tem o que dizer a você, a mim, a nós.

Um dia, na Missa, logo após a consagração, alguém começou um solo de violão e o sacerdote interveio dizendo: “Silêncio! Diante do Absoluto…” Deus é o Absoluto, quando Ele se manifesta, a melhor oração que podemos fazer é calar. Quando o homem cala, Deus fala.

Assim, em nossa oração, devemos fazer tudo o que está ao nosso alcance para nos colocar na presença de Deus, que já estava ali à nossa espera, e quando percebemos que nos aproximamos do Senhor e estamos diante dEle, devemos calar porque as palavras já não são necessárias; então podemos contemplar e ser contemplados.

Não temos ideia do quanto Deus nos cura e liberta neste momento de silêncio, quando só o amor transita. Damos um amorzinho frágil, miserável e impuro e recebemos uma descarga avassaladora de amor inebriante que nos torna vencedores.
Ninguém mais do que Nossa Senhora ouviu a Deus, porque ninguém tanto quanto ela se calou. Muitos acham que Maria não é importante pois as Sagradas Escrituras mostram que ela quase não se pronunciou. Não percebem que é justamente aí que reside a sua importância. Ela deixou Deus ser Deus, calou para Ele falar… E por meio de Maria, Deus disse uma Palavra que de tão concreta se fez carne. Ela não precisava falar, outro falava em seu silêncio.

Na anunciação, a resposta de Maria foi basicamente um “sim”, com Isabel tudo o que fez foi cumprimentá-la. Quando ninguém deu lugar ao seu Filho para nascer, ela calou; entre os doutores, ela calou; na cruz, ela calou. Ela sabia que a vitória que temos sobre o sofrimento está no silêncio. Quem se cala ante o sofrimento guarda só para Deus o perfume deste sacrifício; quem fala dissipa-o.

Podemos dizer que São Tomás de Aquino seguiu à risca este exemplo de Maria.

Conta-se que por São Tomás de Aquino ser muito gordo e por falar pouco puseram-lhe um apelido: boi mudo, era assim que o chamavam e procuravam atormentá-lo. Um dia, um de seus professores ouviu quando o chamaram de boi mudo e fez uma observação: “Quando este boi mugir, vai tremer o mundo”, e assim aconteceu. Ele é um dos santos que abalaram o mundo pela sabedoria que adquiriu no silêncio.

Nossa Senhora falou pouco, mas quando abriu a boca a criação estremeceu. João Batista foi só um exemplo do que aconteceu à humanidade.

Que o Espírito Santo nos ponha no coração o desejo de guardar o silêncio sagrado, o mesmo que Maria honrou e guardou tornando-se a mestra, a educadora de todos os que de longe perceberam a profundidade deste mistério e agora anseiam por penetrá-lo!

Dê-nos, o Senhor, um anjo para nos guardar neste bom propósito.
“Senhor, eu vos chamo, vinde logo em meu socorro; escutai a minha voz quando vos invoco. Que a minha oração suba até vós como a fumaça do incenso; que minhas mãos estendidas para vós sejam como a oferenda da tarde. Ponde, Senhor, uma guarda em minha boca, uma sentinela à porta de meus lábios” (Sl 140,1-3).

Do livro "Quando só Deus é a resposta", Márcio Mendes

Não toques trombeta! (Mateus 6, 1-6.16-18)

Calma! Jesus não tem nada contra os trombonistas! Apenas usa uma expressão figurada para nos ensinar a discrição até no fazer o bem. Podemos estragar uma ação boa com o nosso exibicionismo. Dizem que os fariseus, ao lançar as moedas nos cofres do templo, deixavam que elas caíssem bem do alto: assim, com seu tilintar, todos olhariam naquela direção e veriam a cara do piedoso doador. Pois, sim...

A mãe de um amigo meu morava em uma pequena cidade do interior de Minas. O marido tinha um pequeno comércio, ou melhor, uma “venda”, como se dizia naqueles tempos. Toda manhã, discretamente, escondida do marido (ou ele fazia vista grossa?), a senhora pegava uma bolsa com dois ou três quilos de mantimentos e visitava uma família pobre. Somente após sua morte, veio à tona a sua caridade. E todos compreenderam por que motivo metade da cidadezinha era composta de afilhados e afilhadas daquele casal. Até Jesus Cristo aplaudiria esse tipo de caridade.

A caridade cristã não tem nada a ver com filantropia. Os filantropos e clubes de serviço não sabem fazer o bem sem anexar rumorosa propaganda: vejam só o que estamos fazendo! Das obras dos políticos, nem se fale! A placa chega a ser maior que a obra executada! Para nós, Jesus propõe um caminho de vida interior, sem máscaras e sem purpurinas. O Pai vê o que é secreto e nos recompensará por nossos gestos de amor. Ao contrário, se nós damos um jeitinho de aparecer aos olhos dos homens, “já recebemos nossa recompensa”, isto é: nossa goiaba já nasceu bichada!

Madre Teresa de Calcutá, contava que em sua infância, na Albânia, muitas vezes havia pessoas estranhas à mesa. Quando perguntava quem eram elas, a mãe respondia: “São parentes nossos que moram longe daqui”. Na verdade, eram pobres sem recursos, que passavam por lá, refugiando-se da guerra. A mesma mamãe ensinaria à pequena Teresa: “Se você fizer alguma caridade, que ninguém o perceba!”

Jesus fala concretamente do jejum e da oração, práticas louváveis que devem ser igualmente discretas. Deus aprecia a simplicidade. Mas deve tapar os ouvidos para não ouvir certas orações que fazemos, cheias de palavras eruditas, altissonantes, mas sem nenhuma ressonância interior... Puro exibicionismo! É preciso muito cuidado com a moderna tentação de promover a Igreja, vocações e Institutos através dos meios da sociedade pagã, como táticas de marketing e propaganda. Não precisamos de nada disso. Precisamos de santos.

Daí o conselho de Jesus: rezar em segredo, no quarto, onde apenas os olhos do Pai estão voltados para nós. Certamente, ali será mais sincera a nossa oração...

Orai sem cessar: “Como a criança no seio materno, como tal criança são meus desejos.”

Antônio Carlos Santini, Comunidade Católica Nova Aliança
http://www.nsrainha.com.br