Há uma coisa que
eu te reprovo: abandonaste o teu primeiro amor (Ap 2,
4).
O discípulo de
Cristo sabe que viver em união amorosa com o Mestre é tarefa que leva tempo.
Uma coisa é aceitar a fulgurante beleza do Esposo nos arroubos dos primeiros
encontros. Outra é permanecer fiel ao longo dos desafios e do desgaste do tempo
da vida. O autor do Apocalipse lembra à Igreja que está em Éfeso a necessidade
de permanecer fiel.
“Conheço a tua
conduta, o teu esforço e a tua perseverança”. Por ocasião de um retiro,
na realização de um trabalho de pastoral, devido a outras
circunstâncias, o discípulo se dá conta que seu relacionamento com o Mestre é
marcado por fervor, alegria, garra. Pode mesmo ser que, no começo,
esse amor pelo Senhor se revista de marcas de sensibilidade. É bom que
assim o seja. Em seguida, porém, será necessário ficar firme na oração,
mesmo nos momentos de aridez, na execução das tarefas mesmo quando estas
passam a ser penosas, na aceitação das contradições e perseguições mesmo quando
estas partem dos de casa.
“Sei que não
suportas os maus. Colocaste à prova alguns que se diziam apóstolos e
descobriste que não eram apóstolos, mas mentirosos”. Pelo testemunho e força o
discípulo mostra quem são os verdadeiros apóstolos e os que são mentirosos.
“És perseverante.
Sofreste por causa do meu nome e não desanimaste”. Há esse sofrimento calado de
uma doença suportada, de uma ofensa completamente injusta, de uma perseguição
ostensiva quando o testemunho de vida passa a ser uma condenação da vida
dos outros. Há os que não desanimam. Perseveram, com a força da graça, na
adolescência e juventude, na idade madura e na velhice, na saúde e na doença,
sempre.
“Abandonaste o
teu primeiro amor”. O Apocalipse recrimina a Igreja de Éfeso de ter perdido o
elã do começo. O tempo da vida é longo e o discípulo corre o risco de
fragilizar-se. O discípulo cai. E, ao longo do tempo da vida, será preciso
levantar-se, converter-se, prestar atenção nos passos e descompassos,
olhar nos olhos do Senhor e parar diante dos irmãos. “Converte-te e volta
à tua prática inicial”. Conversão: visitar o interior, não deixar vazia a casa
do coração, cultivar a delicadeza de consciência, estar sempre atento aos
pedidos do Senhor aqui e agora.
Frei Almir Ribeiro Guimarães