segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Estrelas do mar

Era uma vez um escritor que morava em uma tranquila praia, próxima de uma colônia de pescadores. 

Todas as manhãs ele caminhava à beira do mar para se inspirar e à tarde ficava em casa escrevendo. 

Certo dia, caminhando pela praia, ele viu um vulto que parecia dançar. Ao chegar perto do vulto, ele reparou que se tratava de um jovem que recolhia estrelas-do-mar da areia para, uma por uma, jogá-las novamente de volta ao oceano. 

 - Por que está fazendo isso? - perguntou o escritor. 

-Você não vê? - explicou o jovem - A maré está baixa e o sol está brilhando. Elas vão secar e morrer se ficarem aqui na areia. 

O escritor espantou-se: - Meu jovem, existem milhares de quilômetros de praias por este mundo afora e centenas de milhares de estrelas-do-mar espalhadas pela praia. Que diferença faz? Você joga umas poucas de volta ao oceano. A maioria vai perecer de qualquer forma. 

O jovem pegou mais uma estrela na praia, jogou de volta ao oceano e olhou para o escritor. - Para essa, eu fiz a diferença. 

Naquela noite o escritor não conseguiu dormir, nem sequer conseguiu escrever. Pela manhã, voltou à praia, uniu-se ao jovem e, juntos começaram a jogar estrelas-do-mar de volta ao oceano.

Leitura Bíblica: Lucas 4, 16-30

Segundo o trecho de Lucas proclamado na liturgia da palavra de hoje, vemos Jesus em sua terra. Ali havia sido criado. Ali era conhecido de todos, bem como seus pais e sua parentela. Esse nazareno começa a ficar conhecido e famoso em outras regiões da Palestina.  O evangelista, de passagem, faz uma observação  interessante:  Jesus tinha o costume de frequentar a sinagoga  no dia de sábado.   Fazia parte da organização de sua vida  a escuta das Escrituras junto com o povo que se reunia na sinagoga.

Como visitante, foi ele convidado a fazer a leitura.  Deram-lhe o livro (ou o rolo).  Ele se depara com uma passagem de  Isaías: “O Espírito do  Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção para  anunciar a boa nova aos pobres, enviou-me para proclamar a libertação aos cativos e aos cegos a recuperação da vista;  para libertar os oprimidos e para proclamar um ano de graça do Senhor”.   Texto curto, lido com um tom de voz diferente, pausado e pesado, tom daquele que realizava em sua vida aquelas palavras.  Jesus fecha o livro, entrega-o ao ajudante e senta-se.  Dá tempo para que aquelas palavras  ecoem no seu próprio interior e no interior de seus ouvintes.  Lucas observa que todos os que estavam presentes na sinagoga  tinham os olhos fixos em  Jesus  ansiosos por ouvir sua explicação,  sua  “homilia”.

Assim podia dizer Jesus: “Meus caros, este texto solene chega a me emocionar.  Vocês  me olham fixamente.  Pois bem,  devo lhes dizer  que  hoje se cumpre em mim esta palavra da Escritura.  O Espírito, o sopro do Altíssimo, me ungiu. Eu vim para anunciar uma palavra forte e bondosa aos mais abandonados, aos que têm um coração de pobre, aos que não conseguem se desvencilhar de seus pecados, aos pobres de verdade. Aproximo-me deles.  Preciso  fazer com que as pessoas tenham firmeza nos pés. Venho libertar os oprimidos.  A unção do Espírito impregna minha pessoa”.  Jesus fez, pois,  uma homilia.  Explicou o que havia sido lido em função de sua missão, como hoje os sacerdotes, proclamadas as leituras, as tornam atuais na vida da Igreja e da assembleia reunida.  Os discípulos de Jesus, também  ungidos  com o Espírito, no batismo e crisma, andam pelo mundo anunciando a boa nova da acolhida de Deus aos pobres, abrindo o coração de jovens e adultos  aos apelos do mundo novo,  criando e alimentando comunidades de fé, esperança e caridade.

Os ouvintes da sinagoga  ficaram admirados com estas palavras  de Jesus, “palavras cheias de encanto”.  Mas foi tudo.  Lucas observa que muitos tiveram dificuldade em ouvir com o coração.   Esse que assim falava não era senão o filho de José… E  Jesus:  “Sem dúvida, vós me repetireis o provérbio: Médico, cura-te a ti mesmo…Em verdade eu vos digo  que nenhum profeta é bem recebido em sua terra”.  O terceiro evangelho chega a dizer que os ouvintes de Nazaré queriam mata-lo. “Levaram-no até o alto do monte  sobre o qual a cidade estava construída com a intenção de lança-lo no precipício. Jesus, porém, passando no meio deles,  continuou seu caminho”.

Frei Almir Ribeiro Guimarães