domingo, 28 de dezembro de 2014

As lições de Nazaré

Nazaré é a escola onde se começa a compreender a vida de Jesus: a escola do Evangelho.
Aqui se aprende a olhar, a escutar, a meditar e penetrar o significado, tão profundo e tão misterioso, dessa manifestação tão simples, tão humilde e tão bela, do Filho de Deus. Talvez se aprenda até, insensivelmente, a imitá-lo.
Aqui se aprende o método que nos permitirá compreender quem é o Cristo. Aqui se descobre a necessidade de observar o quadro de sua permanência entre nós: os lugares, os tempos, os costumes, a linguagem, as práticas religiosas, tudo de que Jesus se serviu para revelar-se ao mundo. Aqui tudo fala, tudo tem um sentido.
Aqui, nesta escola, compreende-se a necessidade de uma disciplina espiritual para quem quer seguir o ensinamento do Evangelho e ser discípulo do Cristo.
Ó como gostaríamos de voltar à infância e seguir essa humilde e sublime escola de Nazaré! Como gostaríamos, junto a Maria, de recomeçar a adquirir a verdadeira ciência e a elevada sabedoria das verdades divinas.
Mas estamos apenas de passagem. Temos de abandonar este desejo de continuar aqui o estudo, nunca terminado, do conhecimento do Evangelho. Não partiremos, porém, antes de colher às pressas e quase furtivamente algumas breves lições de Nazaré.
Primeiro, uma lição de silêncio. Que renasça em nós a estima pelo silêncio, essa admirável e indispensável condição do espírito; em nós, assediados por tantos clamores, ruídos e gritos em nossa vida moderna barulhenta e hipersensibilizada. O silêncio de Nazaré ensina-nos o recolhimento, a interioridade, a disposição para escutar as boas inspirações e as palavras dos verdadeiros mestres. Ensina-nos a necessidade e o valor das preparações, do estudo, da meditação, da vida pessoal e interior, da oração que só Deus vê no segredo.
Uma lição de vida familiar. Que Nazaré nos ensine o que é a família, sua comunhão de amor, sua beleza simples e austera, seu caráter sagrado e inviolável; aprendamos de Nazaré o quanto a formação que recebemos é doce e insubstituível: aprendamos qual é sua função primária no plano social.
Uma lição de trabalho. Ó Nazaré, ó casa do “filho do carpinteiro”! É aqui que gostaríamos de compreender e celebrar a lei, severa e redentora, do trabalho humano; aqui, restabelecer a consciência da nobreza do trabalho; aqui, lembrar que o trabalho não pode ser um fim em si mesmo, mas que sua liberdade e nobreza resultam, mais que de seu valor econômico, dos valores que constituem o seu fim. Finalmente, como gostaríamos de saudar aqui todos os trabalhadores do mundo inteiro e mostrar-lhes seu grande modelo, seu divino irmão, o profeta de todas as causas justas, o Cristo nosso Senhor.

(Alocução do papa Paulo VI, pronunciada em Nazaré a 5 de janeiro de 1964)


terça-feira, 2 de dezembro de 2014

É preciso ter esperança


Quando pensarmos no fim, com todos os nossos pecados, com toda a nossa história, pensemos no banquete que gratuitamente nos será dado e levantemos a cabeça. Nada de depressão. Esperança! Mas a realidade é ruim. Há tantos e tantos povos, cidades e pessoas, tanta gente que sofre; tantas guerras, tanto ódio, tanta inveja, mundanidade espiritual e corrupção. Sim, é verdade! Tudo isso cairá! Mas peçamos ao Senhor a graça de sermos preparados para o banquete que nos espera, com a cabeça sempre erguida.


Papa Francisco

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

A verdadeira árvore


Lendo e meditando o capítulo 15 do Evangelho de João (1-8), vi ali a beleza que é a nossa vida, comparando-a com uma árvore. Existem árvores que germinam, crescem, criam galhos, dão frutos... com o tempo, alguns galhos precisam ser podados para que galhos novos apareçam para darem novos frutos. Outras árvores passam por esse mesmo processo, mas num determinado momento as podas são esquecidas, a água necessária para que elas vivam já não é derramada... a árvore morre. Assim somos nós. Quando nos deixamos podar, no tempo certo, quando deixamos que a Água Viva esteja sempre a nos molhar, estamos a crescer e podemos dar sempre bons frutos, até o dia em que o Senhor nos chamar. Porém, se preferimos nos fechar, preferimos continuar com os galhos defeituosos, as folhas cairão, os galhos murcharão, os frutos deixarão de aparecer... Peço a Deus que não deixe de derramar sobre todos nós o Seu Espírito de paz, de amor, e, sempre que necessário, envie jardineiros para fazer a poda necessária para o nosso crescimento.


“Quem permanece em mim, e eu nele, dará muito fruto...” (Jo 15,5b)  

Publicado em Jornal Kyrie, Novembro/2019