domingo, 11 de agosto de 2013

“A fé é um modo de já se possuir o que ainda se espera…”




Na liturgia da Palavra deste domingo,   a segunda leitura, tirada da  Carta aos Hebreus,   faz o  elogio dos homens que viveram na fé e pela fé.  Logo no começo a  Carta descreve: a fé é um modo de já possuir o que ainda se espera,   a convicção acerca de realidades que não  se veem. Na sequência do texto  seu autor fala da fé de Abraão que obedeceu à ordem de andar na direção de uma terra  que deveria receber como herança e partiu sem saber para onde ia. Foi pela fé que viveu como estrangeiro. Foi pela fé que também Sara, embora estéril, se tornou capaz de filhos.  É pela fé que hoje os cristãos caminham, vivem, trabalham, alegram-se, sofrem e com esta luz “possuem já o que ainda esperam”.

Sirva para nosso enriquecimento espiritual as linhas  que transcrevemos da  Encíclica Lumen Fidei do Papa  Francisco onde é  descrita a plenitude das fé cristã: “Abraão (…)  exultou pensando em ver o meu dia; viu-o e ficou feliz”  (Jo 8,56).  De acordo com estas palavras de Jesus,  a fé de Abrãao  estava orientada para ele, de certo modo era visão antecipada de seu mistério.  Assim o entende  Santo  Agostinho  quando afirma que os Patriarcas se salvaram pela fé, não fé em  Cristo já chegado,  mas fé em Cristo que havia de vir,  fé proclive  para o evento futuro de Jesus.  A fé cristã está centrada em Cristo;  é a confissão de que Jesus é o  Senhor e que Deus o ressuscitou  dentre os mortos  (cf. Rm  10,9).  Todas as linhas do Antigo Testamento se concentram em Cristo:  Ele torna-se o sim definitivo a todas as promessas,  fundamento último de nosso Amém  a Deus (cf 2Cor  1,20).  A história de Jesus é a manifestação  plena da fidelidade de Deus.  Se Israel recordava os grandes atos do amor de Deus, que formavam o centro das sua confissão e  abriam o horizonte das sua fé, agora a vida de Jesus aparece como o lugar da intervenção definitiva de Deus,   a suprema  manifestação de seu amor por nós.  A palavra  que  Deus nos dirige  em Jesus  já não é uma entre muitas outras, mas a sua  Palavra eterna ( cf Hb 1, 1-2). Não há nenhuma garantia  maior  que  Deus possa dar para nos certificar de seu amor, como nos lembra  Paulo (cf.  Rm  8,31-39).   Portanto, a fé cristã é fé no amor pleno, no seu poder eficaz, na sua capacidade de transformar o mundo e iluminar o tempo.  “Nós conhecemos o amor  que Deus nos tem, pois cremos nele”  (1Jo 4,16).  A fé identifica, no amor de Deus manifestado  em Jesus, o fundamento sobre o qual se assenta a realidade de seu destino último.  A maior  prova de fiabilidade do amor de Cristo  encontra-se na sua morte pelo homem.  Se dar a vida pelos amigos é a maior prova de amor (cf. Jo 15,13),  Jesus ofereceu a sua vida por todos, mesmo por aqueles que eram inimigos, para transformar o coração.  É por isso que os evangelistas  situam, na hora da cruz, o momento culminante do olhar de fé:   naquela hora resplandece o amor divino e toda a sua sublimidade e amplitude. São João colocará aqui  o seu testemunho solene, quando, juntamente  com a Mãe de Jesus, contemplou aquele que trespassaram (cf. Jo 19, 37).  “Aquele que viu estas coisas é que dá o testemunho delas e o seu testemunho é verdadeiro. E ele bem sabe que  diz a verdade, para vós crerdes também  (Jo 19,35)  (Lumen fidei n. 15-16).

Frei Almir Ribeiro Guimarães
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