sábado, 20 de outubro de 2012

O vestido azul


Num bairro pobre de uma cidade distante, morava uma garotinha muito bonita. Acontece que essa menina frequentava as aulas da escolinha local no mais lamentável estado: suas roupas eram tão velhas que seu professor resolveu dar-lhe um vestido novo. Assim raciocinou o mestre: “É uma pena que uma aluna tão encantadora venha às aulas desarrumada desse jeito. Talvez, com algum sacrifício, eu pudesse comprar para ela um vestido azul.”

Quando a garota ganhou a roupa nova, sua mãe não achou razoável que, com aquele traje tão bonito, a filha continuasse a ir ao colégio suja como sempre, e começou a dar-lhe banho todos os dias, antes das aulas. Ao fim de uma semana, disse o pai: “Mulher, você não acha uma vergonha que nossa filha, sendo tão bonita e bem arrumada, more num lugar como este, caindo aos pedaços? Que tal você ajeitar um pouco a casa, enquanto eu, nas horas vagas, vou dando uma pintura nas paredes, consertando a cerca, plantando um jardim?”

E assim fez o pobre casal. Até que sua casa ficou muito mais bonita que todas as casas da rua e os vizinhos se envergonharam e se puseram também a reformar suas residências. Desse modo, todo o bairro melhorava a olhos vistos, quando por isso passou um político que, bem impressionado, disse: “É lamentável que gente tão esforçada não receba nenhuma ajuda do governo”.

E dali saiu para ir falar com o prefeito, que o autorizou a organizar uma comissão para estudar que melhoramentos eram necessários ao bairro.

Dessa primeira comissão surgiram muitas outras e hoje, por todo o país, elas ajudam os bairros pobres a se reconstruírem.

E pensar que tudo começou com um vestido azul.

Não era intenção daquele simples professor consertar toda a rua, nem criar um organismo que socorresse os bairros abandonados de todo o país. Mas ele fez o que podia, ele deu a sua parte, ele fez o primeiro movimento, do qual se desencadeou toda aquela transformação.

Não aceitamos o mundo como está, fazemos a nossa parte (embora pequena) a fim de que o mundo seja melhor? Repudiamos as gerações anteriores, porque construíram a guerra, estamos construindo a paz em nossa volta, nos lugares em que vivemos e nem sempre convivemos?

Porque é difícil varrer toda a rua, mas é fácil varrer a nossa calçada.

Porque é difícil reconstruir um bairro, mas é possível dar um vestido azul.

Do Livro “Sabedoria em Parábolas”, Prof. Felipe Aquino

Leitura Bíblica: Lucas 12,8-12


Num primeiro momento do Evangelho de hoje, Jesus mostra que será fiel àqueles que derem testemunho dele: “Todo aquele que der testemunho de mim diante dos homens, o Filho do Homem também dará testemunho dele diante dos anjos de Deus” (cf. Lc 12,8). No final, Ele tranquiliza os que não tiverem receio ao serem perseguidos por testemunhar, anunciar a Boa Nova: “Pois, nessa hora, o Espírito Santo vos ensinará o que deveis dizer” (cf. Lc 12,12).

Nos primeiros anos do Cristianismo era muito difícil falar da Boa Nova. Ao longo desses dois mil anos os cristãos foram e são perseguidos por falarem da Salvação que vem de Jesus. Muitos mártires foram sacrificados por darem testemunho de Jesus. Nos tempos atuais os cristãos continuam sendo perseguidos, tanto nos países onde existem as “guerras santas”, mas também em nosso meio, onde a guerra é velada, escondida. Pense em sua vida, no seu cotidiano e diga se sua vida como cristão não é uma luta diária contra os conceitos atuais! A minha sei que é.

Muitas vezes, quando confrontados por causa da nossa fé, somos incapazes de responder à altura, chegamos até mesmo a negar Jesus, declarando desconhecê-Lo. É difícil essa luta cotidiana, mas Jesus vem nos dar forças neste dia, quando lembra que não estamos sozinhos na batalha. Em outra passagem bíblica, Jesus diz: “Eu rogarei ao Pai, e ele vos dará um outro Paráclito, para que fique eternamente convosco. É o Espírito da verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece; mas vós o conhecereis, porque permanecerá convosco e estará em vós” (Jo 14, 16-17).

Para finalizar esta reflexão, quero partilhar com vocês uma passagem dos escritos de um martírio ocorrido no século III:

“Prenderam alguns jovens catecúmenos: Revocato e Felicidade, ambos escravos, Saturnino e Secundino, e com eles encontrava-se Víbia Perpétua. Esta era nobre de nascimento, tivera uma educação esmerada e fizera um bom casamento. Perpétua tinha ainda pai e mãe, dois irmãos – um dos quais catecúmeno, também – e uma criança ainda de peito. Tinha cerca de 22 anos. Ela própria relatou a história completa do seu martírio. Ei-la, escrita por seu  punho, com base nas suas impressões:
«Estávamos ainda com os guardas, mas o meu pai já estava a tentar convencer-me. Na sua ternura, tudo fazia para me enfraquecer a fé.
- Pai, disse-lhe eu, estás a ver esse vaso caído no chão, a bilha e aquela coisa ali?
- Estou, disse o meu pai.
- Podemos designá-las por outro nome que não seja o seu? pergunto-lhe eu.
- Não, respondeu.
- Pois bem, também eu não posso ter outro nome que não seja o meu, mas apenas o meu nome verdadeiro: sou cristã.
O meu pai ficou exasperado com tais palavras, e avançou para dar cabo de mim. Limitou-se a agarrar-me e abanar-me com força e foi-se embora, com os argumentos do demônio, vencido. Durante alguns dias não voltei a ver o meu pai; dei graças a Deus por isso, essa ausência foi para mim um alívio. Foi precisamente durante esse curto lapso de tempo que fomos batizados. O Espírito Santo inspirou-me a nada pedir à santa água a não ser força para resistir fisicamente.
Alguns dias mais tarde, fomos transferidos para a prisão de Cartago. Fiquei espantada com esta prisão: nunca me vira em trevas tais. [...] A inquietação devorava-me, por causa do meu filho. [...] Acalmava o meu irmão, pedindo-lhe que tomasse conta do meu filho. Sofria muito por ver a minha família sofrer por causa de mim. Durante longos dias, estas inquietações torturaram-me. Acabei por conseguir que o meu filho viesse ficar comigo na prisão. Recuperou as forças sem demora. De repente, a prisão transformou-se-me num palácio, e eu sentia-me ali melhor do que em qualquer outro lugar.»

Portanto, meus irmãos, não há o que temer. Professemos e vivamos a nossa fé, em meio às tribulações e dificuldades, mas sem desanimar. A nossa vida com Cristo precisa impregnar as nossas realidades e a fé perpassar tudo o que fazemos. Assim estaremos testemunhando o Filho de Deus, que falará por nós diante do Pai.

Senhor Jesus, enviai o Seu Espírito Santo, para que possamos testemunhar com fé e amor a Boa Nova da Salvação!