sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Ide ao encontro do outro



Pais e filhos, irmãos, amigos e colegas de trabalho ou companheiro de missão podem conviver décadas a fio, podem ter uma relação intensa, podem se divertir ou sofrer juntos… mas persistem o lado avesso, por trás das máscaras, que nunca se expõem e nem se dissipam.

Amor e amizade transitam entre esses dois "eu" que se relacionam em harmonia e conflito: afeto, generosidade, atenção, cuidados, desejo de partilha, vontade de fazer e de ser um bem, de obter do outro o que para gente é um bem, o complicado respeito ao espaço do outro, formam um campo de batalha e uma ponte.

No relacionamento afetivo, familiar ou amizade, acredito que partilhar a vida com alguém é enriquecê-la; permanecer numa relação desgastada é suicídio emocional, é desperdício de vida.

Cabe a cada um de nós decidirmos, isso, exige auto-exame, avaliação. Vale a pena apostar quando ainda existe afeto e interesse, quando o outro continua sendo desafio em lugar de um tédio, e quando, entre pais e filhos, irmãos e outros, continuam a disposição de descobrir mais e melhor quem é esse outro, o que deseja, de que precisa, o que pede e o que lhe é possível fazer.

O outro é desconhecido para nós. As pessoas podem conviver uma vida inteira e mesmo assim, não se conhecerem totalmente. Muitas vezes o máximo que conhecemos daqueles que estão próximos a nós é somente o olhar, seu jeito de ser e suas misérias. Este é o limite em que chegamos. Mas o seu interior é um mundo desconhecido, seus pensamentos, seus sentimentos… O máximo que conhecemos de algumas pessoas é somente seu exterior. Mas o verdadeiro ser é mais do que aparência, o verdadeiro ser está no interior.

É preciso romper barreiras, devemos ir ao encontro do outro e buscar conhecer verdadeiramente o seu interior. Não podemos viver indiferentes uns para com os outros. Pois somos imagem e semelhança de Deus.

Não é fácil ir ao encontro do outro, pois em nosso interior vive um leão que precisa ser domado a cada dia. Um leão que muitas vezes mata o outro, não com as mãos, mas com a indiferença e ingratidão. É preciso romper barreiras e ir além dos nossos limites, para conhecer e se dar a conhecer.

Quando não busco conhecer o outro ou não me dou a conhecer, vivo apenas na superficialidade. Enquanto você viver haverá partes deste ‘território’ para conhecer. Tantas coisas nos foram entregues, mas se elas não vêm à tona, e nem as investigamos, tudo o que temos dentro de nós fica sem uso. Quanta coisa preciosa temos dentro de nós e por egoísmo não deixamos o outro conhecer, ficamos só na superficialidade do conhecimento de si.

Leandro Couto - Com. Canção Nova

Leitura Bíblica: Isaías 29, 17-24; Mateus 9, 27-31


Todo este mês de dezembro tem perfume de esperança.  Ele vem. O Messias, na verdade, já veio. Estamos nos preparando para as grandes celebrações natalinas que revigoram nossa fé na encarnação do Verbo.  Tudo fala de esperança.

Isaías faz um elenco de eventos alvissareiros: os surdos ouvirão as palavras do livro e os olhos dos cegos verão no meio das trevas e das sombras. Os tempos messiânicos sempre foram descritos como aqueles que os cegos e os surdos seriam curados de suas limitações. E o texto continua  na leitura do Evangelho.  Jesus ali coloca um sinal do Reino. Dois cegos se aproximam dele. Querem a cura.  Antes de fazer o  gesto de cura, Jesus formula uma pergunta:  “Acreditais que eu posso fazer isso?”  Com a afirmativa, Jesus continua: “Faça-se conforme a vossa fé”. A cura é precedida de um ato de fé-confiança.  Toda essa simbologia nos remete para a cerimônia do batismo em que é dada a luz. Os que solicitam o batismo desejam uma iluminação. Luz, iluminação, círio pascal, abandono do pecado, do mundo das trevas, cura da cegueira mais profunda. Quando Jesus cura os dois cegos da leitura evangélica, toca os olhos e estes se abriram.

Toda esta simbólica nos remete, como afirmamos, ao sacramento do batismo. Muitos fomos batizados quando ainda não podíamos nos dar conta do que estava sendo em nós operado.  Em nossa caminhada de crescimento no conhecimento amoroso do mistério de Cristo, somos convidados a retomar tudo aquilo que constituiu nosso ingresso no universo da graça e da fé. Caminhantes e peregrinos nos damos conta que enxergamos mal. Não temos clareza no momento de fazer uma escolha fundamental.  Nossa inclinação para o mal perturba a limpidez de nossa visão. O pecado obscurece a razão. Sobretudo nos momentos em que a luminosidade de uma presença mais sensível do Senhor desaparece não sabemos que caminho tomar e que opção fazer.
Nos momentos de maior  lucidez buscamos pela luz.  Fazemos nossas as palavras do salmo:  “O Senhor é minha luz e salvação; de quem eu terei medo? O Senhor é a proteção da minha vida; perante quem eu tremerei?”

Isaías, na leitura hoje proclamada, continua  com palavras embebidas de esperança: “Os humildes aumentarão sua alegria  no Senhor, e os mais pobres dos homens se rejubilarão no Santo de Israel”.

Todas estas leituras quando ouvidas com as entranhas arrancam do mais profundo de cada um o desejo da iluminação e um sentimento de profunda gratidão ao Ressuscitado que vestido da luz a manhã da Páscoa nos tirou definitivamente das trevas.

Frei Almir Ribeiro Guimarães