domingo, 31 de março de 2013

Silenciar para ouvir o Senhor



Há vários tipos de silêncio. Muitos mergulham nele apenas para fugir ou para dormir. Outros fazem uso de mil técnicas a fim de atingirem um silêncio simplesmente relaxante; outros ainda exercitam a meditação com o pensamento bloqueado, suspenso num vácuo silencioso, no qual julgam elevar-se. Alguns emudecem por capricho ou por mau humor; e assim por diante…

O verdadeiro silêncio é aquele que nos coloca diante de Deus. Esta experiência enriquece os nossos valores, reflexões, sentimentos e ideias, e mais: no íntimo da alma formam-se as convicções e enraízam-se as virtudes; daí se definem as linhas mestras da luta pessoal por melhorarmos a cada dia um pouco mais.

Temos o hábito de falar muito e quase não sabemos escutar. Há pobreza de palavras, porque há pobreza de silêncio. Só teremos condições de responder com prontidão a Deus e aos irmãos se nos exercitarmos na escuta.

“O Senhor veio, pôs-se junto dele e chamou-o como das outras vezes: Samuel! Samuel! E ele respondeu: Fala, que teu servo escuta” (I Sm 3,10)

Peçamos, hoje, ao Senhor, que nos ensine a silenciar, para que possamos ouvir a Sua voz, a exemplo do Profeta Samuel.

Jesus, eu confio em Vós!


Luzia Santiago, Comunidade Canção Nova

Páscoa - Na alegria, abracemo-nos uns aos outros



Cantamos, Cristo, tua paixão que nos salva.
Glorificamos tua Ressurreição.

Tu que sofreste na cruz,
Tu que esmagaste  a morte,
Tu que ressuscitaste dos mortos,
Pacifica nossa vida, Senhor,
Somente tu és o Onipotente.

Tu que esvaziaste o inferno,
Tu que ressuscitaste o homem por tua ressurreição:
Torna-nos  dignos de  Te cantar
E de te glorificar com um coração puro.

A Páscoa sagrada hoje nos foi revelada:
Páscoa nova, santa,
Páscoa mística,
Páscoa grandiosa;
Páscoa, o Cristo libertador;
Páscoa imaculada, grande Páscoa, Páscoa  dos que creem;
Páscoa que nos abriu as portas do Paraíso;
Páscoa que santifica todos os fiéis.

Este é o dia que o Senhor fez;
Entreguemo-nos ao júbilo e à alegria!

Na alegria, abracemo-nos uns aos outros.
Ó Páscoa,  consolo depois do sofrimento!
Hoje, saindo todo resplandecente do sepulcro
o Cristo encheu de alegria as mulheres ao dizer-lhes:
Anunciai aos Apóstolos.

Dia da Ressurreição!
Irradiemos alegria por causa desta solenidade
e abracemo-nos uns aos outros.
Chamemos de irmãos mesmo os que nos odeiam.
Por causa da  Ressurreição a todos perdoemos.
Repitamos a mais não poder:
Cristo ressuscitou dos mortos,
por sua morte  destruiu a morte.
Cumulou  com  o dom da vida
os que estavam nas sombras da morte.


(Liturgia bizantina)

sábado, 30 de março de 2013

O Senhor desceu à mansão dos mortos



Sábado Santo, dia de silêncio, de espera da noite da libertação, da chegada da aurora definitiva. Fazemos ume reflexão sobre o tema inspirando-nos numa Antiga Homilia no Grande Sábado:

Dia de silêncio. Não há celebração eucarística neste dia. Vazio. O grão de trigo foi lançado à terra. Vazio. Desolação,  mas também esperança.

“Que está acontecendo hoje?  Um grande silêncio reina sobre a terra.  Um grande silêncio e  uma  grande solidão. Grande silêncio porque o Rei está dormindo;  a terra estremeceu e ficou silenciosa,  porque o Deus feito homem adormeceu e acordou os que dormiam  há séculos. Deus morreu na carne e despertou a mansão dos mortos”.
Jesus vai à procura de Adão, visita os que estão mergulhados nas sombras da morte. O Senhor entrou onde eles estavam levando a arma da cruz vitoriosa.

Continua a  Antiga Homilia:  “Eu te ordeno:  Acorda, tu que dormes, porque não te criei para permanecerdes na mansão dos mortos. Levanta-te dentre os mortos; eu sou a vida dos mortos. Levanta-te, obra das minhas mãos; levanta-te, ó minha imagem, tu que foste criado à minha semelhança. Levanta-te, saiamos daqui; tu em mim e eu em ti;  somos uma só e indivisível pessoa”.

E Cristo se dirige a Adão e a nós com palavras tocantes:  “Vê em meu rosto os escarros  que  por ti recebi, para  restituir-te o sopro  da vida original.  Vê em minhas faces as bofetadas que levei para restaurar, conforme a minha imagem, a tua beleza corrompida. Vê em minhas costas as marcas dos açoites que suportei por ti, para retirar de teus ombros o peso dos pecados.  Vê minhas  mãos  fortemente  pregadas à árvore da cruz por causa de ti, que outrora  estendeste levianamente tuas mãos para a árvore do paraíso”.

Finalmente, as promessas de ventura para os que estão na mansão dos  mortos: “Adormeci na cruz e  por tua causa a lança penetrou o meu lado, como Eva surgiu do teu, ao adormeceres no paraíso.  Meu lado curou a dor do teu lado. Meu sono vai arrancar-te  do sono da morte.  Minha  lança deteve a lança que estava dirigida contra ti”.

Sábado de silêncio,  de espera,  de grande reconhecimento.  Sábado em que o Senhor desce à mansão dos mortos.  Sábado do grande repouso.

Frei Almir Ribeiro Guimarães

quinta-feira, 28 de março de 2013

#FicaAdica 75




Viver a Semana Santa é entrar sempre mais na lógica de Deus, na lógica da Cruz, que não é antes de tudo aquela da dor e da morte, mas aquela do amor e da doação de si que traz vida. É entrar na lógica do Evangelho. Seguir, acompanhar Cristo, permanecer com Ele exige um “sair”, sair. Sair de si mesmo, de um modo cansado e rotineiro de viver a fé, da tentação de fechar-se nos próprios padrões que terminam por fechar o horizonte da ação criativa de Deus. Deus saiu de si mesmo para vir em meio a nós, colocou a sua tenda entre nós para trazer-nos a sua misericórdia que salva e doa esperança. Também nós, se desejamos segui-Lo e permanecer com Ele, não devemos nos contentar em permanecer no recinto das 99 ovelhas, devemos “sair”, procurar com Ele a ovelha perdida, aquela mais distante. Lembrem-se bem: sair de nós mesmo, como Jesus, como Deus saiu de si mesmo em Jesus e Jesus saiu de si mesmo por todos nós.

Papa Francisco

Lava-pés




Jesus “levanta-se da mesa, depõe o manto e, tomando uma toalha, cinge-se com ela. Depois, coloca água numa bacia e começa a lavar os pés dos discípulos e a enxugá-los com a toalha com que estava cingido” (Jo 13,4-5). Jesus presta aos seus discípulos o serviço do escravo, “humilha-se a Si mesmo” (Fl 2,7).

Aquilo que diz a Carta aos Filipenses, no seu admirável hino cristológico – isto é, que, num gesto contrário ao de Adão, que tentara com as próprias forças apoderar-se do divino, Cristo desceu da sua divindade tornando-se homem, “assumiu a condição de servo” e fez-se obediente até a morte de cruz (cf. 2,7-8) – tudo isso ficou visível aqui num único gesto. Com um ato simbólico, Jesus ilustra o conjunto do seu serviço salvífico. Despoja-se do seu esplendor divino, ajoelha-se por assim dizer diante de nós, lava e enxuga os nossos pés sujos, para nos tornar capazes de participar no banquete nupcial de Deus.

Quando, no Apocalipse, aparece a formulação paradoxal segundo a qual os redimidos “lavaram as suas túnicas e as branquearam no sangue do Cordeiro” (7,14), isso quer dizer: é o amor de Jesus até o fim que nos purifica, que nos lava. O gesto do lava-pés exprime isto mesmo: é o amor serviçal de Jesus que nos tira fora da nossa soberba e nos torna capazes de Deus, nos torna “puros”.

Do Livro “Jesus de Nazaré – Da entrada em Jerusalém até a Ressurreição”, de Bento XVI