sábado, 10 de março de 2012

A nova profecia de João Batista

João Batista nos ensina que os profetas não precisam de uma grande doutrina e eloquência. Ele não é um grande teólogo; possui uma cristologia pobre e rudimentar. Ainda não conhece os títulos mais elevados de Jesus: Filho de Deus, Verbo e nem mesmo o de Filho do homem. No entanto, como consegue sentir a grandeza da unicidade de Cristo! Usa imagens simplíssimas, como camponês. “Eu não sou digno de desatar a correia de suas sandálias” (Lc 3,16). A ponderar por suas palavras, o mundo e a humanidade parecem contidos dentro de uma joeira que Ele, o Messias, segura e agita em suas mãos. Diante dele, decide-se quem permanece em pé e quem cai, quem é grão bom e quem é cascabulho que o vento dispersa.

Em 1992, realizou-se um retiro sacerdotal em Monterrey, no México, por ocasião dos quinhentos anos da primeira evangelização da América Latina. Estavam presentes 1.700 sacerdotes e cerca de 70 bispos. Durante a homilia da Missa de encerramento, eu havia falado da necessidade urgente que a Igreja tem de profecia. Depois da comunhão, houve a oração por um novo Pentecostes realizada em pequenos grupos espalhados pela grande basílica. Eu havia permanecido no presbitério. Em certo ponto, um jovem sacerdote aproximou-se de mim em silêncio, ajoelhou-se diante de mim e, com um olhar que não esquecerei jamais, disse-me: “Abençoe-me, padre, quero ser um profeta de Deus!”. Fiquei comovido, porque via que era movido evidentemente pela graça.

Com humildade, podemos fazer nosso o desejo daquele sacerdote: “Quero ser um profeta para Deus”. Pequeno, desconhecido de todos, não importa, mas que, como dizia Paulo VI, tem “fogo no coração, palavra sobre os lábios, profecia no olhar”.

Do Livro “O Mistério da Palavra de Deus”, Pe. Raniero Cantalamessa

Esvaziando as gavetas da alma

Um país vinha sendo atacado havia vários meses. Os soldados estavam cansados e os oficiais hesitantes. Apesar de a grande resistência ser o castelo da fronteira, a tropa já esmorecia. Todos sabiam que, se o castelo fosse tomado, provavelmente a guerra estaria perdida. Por isso, era preciso encontrar o melhor general para seu exército.

Então o rei propôs: Será o novo general o primeiro combatente que resolver o problema que vou apresentar. Ele colocou, sobre uma mesa, um quadro raro, adornado com uma moldura artisticamente trabalhada em ouro puro, era a peça mais cara do castelo, de valor inestimável. O quadro era a pintura de uma cena extremamente bela, em que uma jovem lindíssima caminhava num campo, entre flores, sob o céu de um violento azul. O rei apenas disse: Aqui está o problema!

Os soldados ficaram surpresos. Estavam todos ali, parados, olhando o quadro caro com sua esplêndida donzela. O que fazer? Que charada era aquela? Aonde o rei queria chegar com aquilo?

Na mesma hora, um dos oficiais do rei avançou sobre o quadro e sacando a espada destruiu a pintura, esmagou a moldura e atirou a pela janela; então, voltou ao seu lugar. O rei suspirou fundo e disse-lhes, confiante: "Eis o nosso novo general!". E, sob o comando daquele homem, guardaram o castelo da fronteira e venceram a guerra.

A coisa mais importante, agora, é a sua atitude, é tomar uma decisão. Não importa qual seja o problema, ainda que seja algo lindíssimo e precioso para você; se for um pecado precisa ser eliminado. O pecado é sempre um problema. Mesmo que se trate de acabar a relação com uma mulher sensacional ou com um homem maravilhoso. Por mais lindo que seja, ou tenha sido, se você percebe que é algo errado e desagradável a Deus, é preciso pôr-lhe um fim.

Existe um provérbio oriental que diz: "Para você beber vinho numa taça cheia de chá, é necessário primeiro jogar o chá fora para e então, beber o vinho". Deus não se esqueceu de você; Ele quer encher a sua taça com a vida nova, cheia de paz e de alegria que você tanto deseja; mas espera que você tenha coragem de lançar fora o chá da antiga vida e do pecado.

Limpe a sua vida! Comece pelas gavetas, armários até chegar às magoas, costumes e vícios que entulham seu coração. Nada nos aproxima tanto de um recomeço como a confissão sincera dos erros e males cometidos. Quem poderá acusar os que se arrependeram e fizeram, humildes, as confissões de sua culpa?!

É o próprio Deus quem os defende e tornou-se para eles refúgio seguro em sua aflição: "Deus é nosso refúgio e força; mostrou-se nosso amparo nas tribulações. Por isso a terra pode tremer, nada tememos: as próprias montanhas podem se afundar nos mares" (Sl 45,2-3). Quando um homem começa a renovar-se espiritualmente, começa também a ser vítima das más línguas e de seus difamadores.

Quem não sofreu essa prova não começou ainda a progredir. E, quem não está disposto a sofrê-la, é porque não está decidido a converter-se. O mundo, a carne e a tentação, qual multidão que assiste a uma escalada, não se cansarão de lhe dizer: "Que pena! Você não vai conseguir... não pode conseguir... não tem como conseguir...". Os que lhes dão ouvidos vão ficando pelo caminho, desfalecidos, desanimados, inertes... enquanto continuam a lhes gritar: "... que pena! Vocês não vão conseguir! A escalada é dura e o caminho é difícil. Isto não é para vocês".

Mas aqueles que taparam os ouvidos e permaneceram surdos a tais investidas poderão dizer na fé aos que tentavam lhes desanimar: "Podem gritar com todas as suas forças; pois ainda que emprestassem a voz do trovão não me poderiam convencer do contrário. Estou persuadido de que Deus não se esqueceu de mim. E, se por um momento, fui eu quem o abandonou, agora volto e sei que tudo posso naquele que me dá força. Jesus venceu o mundo e disse-me que tivesse confiança. Sim! Eu confio e também vencerei".

Márcio Mendes, Missionário da Comunidade Canção Nova