sábado, 25 de maio de 2013

#FicaAdica 85




 O coração anda no compasso que pode. Amores não sabem esperar o dia amanhecer. O exemplo é simples. O filho que chora tem a certeza de que a mãe velará seu sono. A vida é pequena, mas tão grande nestes espaços que aos cuidados pertencem. Joelhos esfolados são representações das dores do mundo. A mãe sabe disso. O filho, não. Aprenderá mais tarde, quando pela força do tempo que nos leva, ele precisará cuidar dos joelhos dos seus pequenos. O ciclo da história nos direciona para que não nos percamos das funções. São as regras da vida. E o melhor é obedecê-las. Tenho pensado muito no valor dos pequenos gestos e suas repercussões. Não há mágica que possa nos salvar do absurdo. O jeito é descobrir esta migalha de vida que sob as realidades insiste em permanecer. São exercícios simples... Retire a poeira de um móvel e o mundo ficará mais limpo por causa de você. É sensato pensar assim. Destrua o poder de uma calúnia, vedando a boca que tem ânsia de dizer o que a cabeça ainda não sabe, e alguém deixará de sofrer por causa de seu silêncio. Nestas estradas de tantos rostos desconhecidos é sempre bom que deixemos um espaço reservado para a calma. Preconceitos são filhos de nossos olhares apressados. O melhor é ir devagar. Que cada um cuide do que vê. Que cada um cuide do que diz. A razão é simples: o Reino de Deus pode começar ou terminar, na palavra que que escolhemos dizer. É simples...

Pe. Fábio de Melo

Leitura Bíblica: Eclesiástico 17,1-13



O primeiro artigo do Credo nos faz professar nossa fé em Deus Pai, criador do céu e da terra. Estamos acostumados a entrar em contato com a doutrina da criação a partir  dos dois primeiros capítulos do Gênesis.  A leitura do Eclesiástico,  hoje proclamada em nossa liturgia, faz uma leitura paralela ao texto do Gênesis e, de alguma forma, complementar.

Deus cria o homem  da terra, do barro.  Os homens são feitos à imagem de Deus. Temos em nós o selo do Altíssimo e, ao longo de nossa vida, haveremos de lutar para não perder a beleza de sermos imagem daquele que não é debaixo nem da terra.  O homem que é pó e terra volta à terra.  Mas é imagem de Deus.  No dizer de Pascal é fragilidade que pensa.

O homem é contingente, não é Deus. Seus dias são contados.   No entanto, está no centro de tudo.  Deus lhe deu autoridade sobre tudo o que existe. Ele é o guardião da terra, o cuidador, o governador das coisas que Deus dá para o uso de todos os seus filhos.   Deus infundiu nos animais, feras e  pássaros, temor pelo homem.

Em linhas admiráveis o autor do Eclesiástico descreve as grandezas da criatura homem: “Deu aos homens discernimento, língua, olhos, ouvidos e um coração para pensar; encheu-os de inteligência e de sabedoria. Deu-lhes ainda ciência do espírito, e encheu seu coração de bom senso e mostrou-lhe o bem e o mal”.    Esse ser espiritual capaz de discernir o bem do mal, de escolher o melhor, com a língua para comunicar-se, travar relacionamentos.  Deu-lhe ouvidos para pensar.  Curiosamente o Eclesiástico fala de “ouvidos”  para pensar.  Será que se pode pensar com os ouvidos?  Talvez a boa arte de escutar levar elementos importantes para o espírito e para o coração.

Deus fez o homem para ser cantor de suas obras e de suas grandezas. Caminhando pelas estradas, ouvindo o canto dos pássaros, contemplando o sorriso da criança no berço  e  riso desdentado  da velha senhora  cheia de paz  o homem haveria de louvar o criador.  Missão nobre e bela do homem a de reconhecer a glória de Deus presente em suas criaturas, criaturas que são  vestígios e traços do Senhor. “Concedeu-lhes ainda que se gloriassem de suas maravilhas, louvassem o seu nome santo e proclamassem as grandezas de suas obras”.

Uma observação cheia de sutileza e de atualidade:  “Concedeu-lhes ainda a instrução e entregou-lhes por herança a lei da vida”.  O homem é instruído pelo Alto, pelo Espírito que é derramado em seu coração.  Deus firma uma Aliança eterna com os homens e eles são responsáveis por guardar, proteger e promover a vida.  O homem é o grande administrador  da obra da criação, sobretudo cuidador da vida do irmão.  E para terminar: “Tomai cuidado com tudo o que é injusto”.

Frei Almir Ribeiro Guimarães