quinta-feira, 17 de maio de 2012

Luz na escuridão

Um dia, um menino de 3 anos estava na oficina do pai, vendo-o fazer arreios e selas. Quando crescesse, queria ser igual ao pai. Tentando imitá-lo, tomou um instrumento pontudo e começou a bater numa tira de couro. O instrumento escapou da pequena mão, atingindo-lhe o olho esquerdo. Logo mais, uma infecção atingiu o olho direito e o menino ficou totalmente cego. Com o passar do tempo, embora se esforçasse para se lembrar, as imagens foram gradualmente desaparecendo e ele não se lembrava mais das cores.

Aprendeu a ajudar o pai na oficina, trazendo ferramentas e peças de couro. Ia para a escola e todos se admiravam da sua memória. De verdade, ele não estava feliz com seus estudos. Queria ler livros. Escrever cartas, como os seus colegas.

Um dia, ouviu falar de uma escola para cegos. Aos dez anos, Louis chegou a Paris, levado pelo pai e se matriculou no instituto nacional para crianças cegas. Ali havia livros com letras grandes em relevo. Os estudantes sentiam, pelo tato, as formas das letras e aprendiam as palavras e frases. Logo o jovem Louis descobriu que era um método limitado. As letras eram muito grandes. Uma história curta enchia muitas páginas. O processo de leitura era muito demorado. A impressão de tais volumes era muito cara. Em pouco tempo o menino tinha lido tudo que havia na biblioteca.

Queria mais. Como adorava música, tornou-se estudante de piano e violoncelo. O amor à música aguçou seu desejo pela leitura. Queria ler também notas musicais.
Passava noites acordado, pensando em como resolver o problema. Ouviu falar de um capitão do exército que tinha desenvolvido um método para ler mensagens no escuro. A escrita noturna consistia em conjuntos de pontos e traços em relevo no papel. Os soldados podiam, correndo os dedos sobre os códigos, ler sem precisar de luz. Ora, se os soldados podiam, os cegos também podiam, pensou o garoto. Procurou o capitão Barbier que lhe mostrou como funcionava o método. Fez uma série de furinhos numa folha de papel, com um furador muito semelhante ao que cegara o pequeno.

Noite após noite e dia após dia, Louis trabalhou no sistema de Barbier, fazendo adaptações e aperfeiçoando-o. Suportou muita resistência. Os donos do instituto tinham gasto uma fortuna na impressão dos livros com as letras em relevo. Não queriam que tudo fosse por água abaixo. Com persistência, Louis Braille foi mostrando seu método. Os meninos do instituto se interessavam. À noite, às escondidas, iam ao seu quarto, para aprender. Finalmente, aos 20 anos de idade, Louis chegou a um alfabeto legível com combinações variadas de um a seis pontos.

O método Braille estava pronto. O sistema permitia também ler e escrever música. A ideia acabou por encontrar aceitação. Semanas antes de morrer, no leito do hospital, Louis disse a um amigo: "Tenho certeza de que minha missão na Terra terminou." Dois dias depois de completar 43 anos, Louis Braille faleceu. Nos anos seguintes à sua morte, o método se espalhou por vários países. Finalmente, foi aceito como o método oficial de leitura e escrita para aqueles que não enxergam. Assim, os livros puderam fazer parte da vida dos cegos. Tudo graças a um menino imerso em trevas, que dedicou sua vida a fazer luz para enriquecer a sua e a vida de todos os que se encontram privados da visão física.

Há quem use suas limitações como desculpa para não agir nem produzir. No entanto, como tudo deve nos trazer aprendizado, a sabedoria está, justamente, em superar as piores condições e realizar o melhor para si e para os outros.

Todas as coisas são boas

Todas as obras do Senhor são magníficas, todas as suas ordens são executadas pontualmente. Não é preciso dizer: "O que é isto? Por que aquilo?" Porque tudo deve ser estudado a seu tempo: À sua palavra a água para e se ajunta, á sua voz são formados reservatórios de água.Sob sua ordem tudo o que deseja é realizado e não há quem limite seu gesto de salvação. Diante dele estão todas as obras dos homens, nada estará oculto a seus olhos. Vê de eternidade a eternidade, nada é extraordinário para ele. Não é preciso dizer: "O que é isto? Por que aquilo?" Porque tudo foi criado para uma destinação. A sua bênção transborda como um rio e inunda a terra como um dilúvio, assim também ele dá às nações a sua cólera em herança, como mudou as águas em sal. Para os piedosos os seus caminhos são retos, mas para os maus são cheios de obstáculos. Desde o começo as coisas boas foram criadas para os bons, assim como os males para os pecadores. Para a vida do homem as coisas mais necessárias são a água, o fogo, o ferro e o sal, a farinha de trigo, o leite e o mel, o sumo da uva, o óleo e a veste. Tudo isso é um bem para os bons, para os pecadores isso é um mal. Há ventos que foram criados para castigo e no seu furor são um flagelo, no momento final desencadeiam a sua violência, e saciam o furor do seu Criador.  Fogo e granizo, fome e morte, tudo isso foi criado para punição. Os dentes das feras, os escorpiões e as víboras, a espada vingadora para ruína dos ímpios, à sua ordem, alegram-se: foram colocados na terra em caso de necessidade, no momento oportuno não transgridem a sua ordem.  

Por isso desde o princípio me decidi; refleti e o escrevi: "Todas as obras do Senhor são boas, ele supre toda necessidade na hora devida.  Não se pode dizer: 'Isto é pior do que aquilo', porque tudo, no seu tempo, será reconhecido bom. E agora, de todo coração, a toda voz, cantai, bendizei o nome do Senhor."

(Eclesiástico 39,16-35)