quarta-feira, 1 de maio de 2013

Relacionamento por acaso



Acredito que não conhecemos nem nos relacionamos com ninguém por um acaso, e todas as relações (sejam elas quais forem) são, antes de mais nada, oportunidades que Deus nos dá para sermos canais de Seu amor neste mundo.

A este respeito, Henri Nouwen afirma, no livro “Mosaicos do Presente”, que, quando tomamos consciência de que a fonte que sustenta nossas relações não são os parceiros em si nem qualquer coisa que possam oferecer um ao outro - por mais gentis que sejam -, mas Deus que, em Sua bondade, une as pessoas para, por meio de cada um, revelar-se a este mundo, todas as nossas relações mudam e ganham um novo sentido.

A verdade é que começamos a perceber que as pessoas com quem convivemos em casa e no trabalho, e também aquelas que encontramos na rua ou no mercado, não são frutos do acaso. Percebemos que, em cada uma, Deus pode revelar Seu amor a nós e, por meio de cada uma delas, também podemos manifestar nosso amor ao Senhor.

Hoje, por exemplo, eu estava indo para o trabalho com um certa pressa, quando fui surpreendida por um rapaz que varria a calçada do prédio. Ele não só parou de varrer para dar-me passagem, como também disse-me: “Bom dia, moça!”. Fiquei meio desconcertada, pois não estava esperando esta atitude. Então, sorri para ele e agradeci, desejando-lhe também um bom dia.

Foi tudo bem rápido, mas continuei meu caminho pensando no fato. Em meio a milhares de pessoas que eu havia encontrado, o rapaz fez a diferença! Inspirada pelo bem que me proporcionou, decidi procurar viver o resto do dia fazendo a diferença também por onde eu for, decidi amar.

Estou revendo minhas atitudes e percebo o quanto estou distante da perfeição que almejo. A atitude do rapaz foi um pretexto de Deus para levar-me além. Fez-me pensar quantas oportunidades tenho perdido de promover o bem na vida das pessoas com gestos de delicadeza. Na verdade, todos nós sabemos o quanto são importantes as pequenas expressões de amor, pois elas fazem toda a diferença neste mundo, no nosso mundo.

Acontece que, mesmo sem tomarmos consciência, somos marcados por lições erradas que o mundo ensina a respeito do amor e acabamos assumindo-as como verdades.

Como que por “contágio” vamos nos tornando egoístas e nos fechamos em nós mesmos, dando como desculpas a pressa, a segurança, o jeito de ser, e seguimos indiferentes a quem está à nossa volta. Mas Deus, que é o puro amor, nos ensina que amar é também acolher o outro independente da condição em que ele se encontra ou do uniforme que está usando. Todo ser humano é criatura amada por Deus e merece, no mínimo, nosso respeito e atenção. Não é por acaso que pessoas entram e saem da nossa vida.

Aquele rapaz varreu não só a calçada do prédio em que trabalha, mas, com sua atitude, varreu também a poeira do meu coração que estava envolto pela pressa e pelas sombras do ativismo. Ele, certamente, nem imagina o bem que me fez! Não conheço seus sonhos, sua família e penso que, se reencontrá-lo, já não recordo-me de sua face. No entanto, seu gesto mudou o meu dia.

Fico pensando nas minhas atitudes e me pergunto: “Será que estou conseguindo transmitir o amor de Deus àqueles que cruzam meu caminho?”. Jesus disse: “O que vocês desejam que os outros lhes façam, também vocês devem fazer a eles” (Lc 6,31).

Portanto, fiquemos atentos e sejamos criativos e empenhados na prática desta palavra. Que hoje ninguém passe em vão ao seu lado, pois os relacionamentos não são frutos do acaso. São acenos de Deus.

Estamos juntos!

Dijanira Silva, Missionária da Comunidade Canção Nova

Trabalho, expressão de amor



Nesta festa de São José Operário pode ser de proveito refletir sobre algumas linhas do Papa  João Paulo II em sua Exortação Apostólica Redemptoris Custos:

Uma das expressões cotidianas de amor  na vida da  Família de Nazaré  é o trabalho.  O texto evangélico especifica  o tipo de atividade mediante o qual  José procurava garantir  o sustento da família: o ofício de carpinteiro. Esta simples palavra envolve toda a extensão da  vida de José. Para Jesus, este período abrange  os anos da vida oculta, de que fala o evangelista, em seguida ao episódio  acontecido no templo:   Depois desceu com seus pais para Nazaré e era-lhes obediente (Lc  2, 51).

Esta submissão, ou seja, esta obediência  de Jesus na casa de Nazaré é entendida também como participação  no trabalho de José.  Aquele que era designado o filho do carpinteiro (Mt 13,55),  tinha aprendido o ofício de seu pai adotivo. Se a Família de Nazaré, na ordem da salvação e da santidade, é exemplo e modelo para as famílias humanas, pode-se também, analogamente, dizer  o mesmo do trabalho de Jesus  ao lado de José carpinteiro.

Em nossa época a Igreja pôs em realce este aspecto, com a inclusão da memória litúrgica de São José Operário, fixada no dia 1º de maio. O trabalho humano, em particular o trabalho manual,  é de modo especial valorizado no Evangelho.  Juntamente com a humanidade do Filho de Deus, ele foi acolhido no  mistério da  Encarnação, como também foi redimido de maneira particular. Graças à oficina de trabalho, onde ele exercia o próprio ofício juntamente com Jesus, José aproximou o  trabalho humano  do mistério da Redenção.

A importância do trabalho  na vida do homem exige que se conheçam e se assimilem  todos os seus conteúdos, para, através dele ajudar os demais homens a aproximarem-se de Deus,  Criador e Redentor, e a participarem de seus desígnios salvíficos relacionados ao homem e ao mundo.  Teria ainda o trabalho um papel relevante na vida do homem com Cristo, participando, mediante uma fé viva, na sua tríplice missão de sacerdote, profeta e rei.

Trata-se, em última análise, da santificação da vida cotidiana, na qual cada pessoa deve empenhar-se, segundo o próprio estado, e que por ser proposta de acordo com um modelo acessível a todos: São José é o modelo dos  humildes,  que o cristianismo enaltece  para grandes destinos; é a prova de que para ser bons e autênticos  seguidores de Cristo  não se exigem ações grandiosas, mas são indispensáveis  virtudes comuns,  humanas e autênticas.

Frei Almir Ribeiro Guimarães