Em
muitas situações de desentendimento e desconfiança nos relacionamentos humanos,
bem como nas separações, brigas no trabalho e nos ambientes sociais, é
importante reconhecermos uma de nossas grandes falhas: a falta de um pedido de
perdão. Não reconhecermos nossos erros é um grande obstáculo na qualidade do
convívio.
Por qual motivo temos estas dificuldades? Um deles é
admitir a “perda da nossa dignidade”, ter de passar por cima do nosso orgulho,
sentirmo-nos ameaçados ao expormos nossos pontos fracos, ou que, ao pedirmos
desculpas, o outro “nos 'passe na cara' ou use isto como uma vingança”, ou
ainda que “seja lembrado pelos erros ou punido por ser honesto”. (Powell, J.
1985). Acho que, muitas vezes, você já viveu isto, não é mesmo?
Em várias situações, sentimo-nos inferiores ao pedir desculpas; temos a necessidade
de passar parte de nossa vida provando que somos sempre certos, que somos
sempre capazes, que somos fortes e invencíveis. De alguma forma, esta
necessidade vai sendo imposta a nós e pode ser uma grande armadilha em nossas
vidas.
Em outras situações, posso usar o seguinte pensamento: "se não recebi as desculpas do outro, por que eu vou me
sujeitar a pedir desculpas?”. Isto nada mais é do que um grande processo de
imaturidade, ao deixarmos que os comportamentos da outra pessoa possam
determinar os nossos comportamentos e atitudes. É como achar certo roubar,
porque alguém já roubou, não foi descoberto e nunca foi punido.
Para
que possamos chegar ao ponto de pedir desculpas, é válido encontrar um ponto de
honestidade com nós mesmos, assumindo falhas e limitações. Esta honestidade
interior faz com que vejamos, verdadeiramente, nossa responsabilidade nas
situações, possamos reconhecer o que fizemos e entrar numa atitude de
reconciliação com o outro. Talvez, nem sempre consigamos perdão, mas a atitude
de reconhecer é totalmente sua e, certamente, muito libertadora.
Peça desculpas, mas livre-se dos que levam você a pensar:
“você provocou isto”, “só reagi assim, porque você é culpado”, “estou tratando
você como fui tratado por você”. Tais formas “racionais” de explicar um fato,
apenas alimentam em nós mais raiva e mais ressentimento. Faz com que cubramos
nossos erros e não permite que, honestamente, possamos admitir o que foi feito
de errado.
“O perdão é instrumento de vida” (Cencini, A . 2005) e “força que pode mudar o
ser humano”. Certamente, “a falha em pedir desculpas” e em perdoar só
servirão para prolongar a separação entre duas pessoas. Para isto, “a verdade
precisa estar presente em todos os sinceros pedidos de desculpa” (Powell, J.
1985), compreendendo a extensão dos prejuízos que nossas atitudes, por vezes
desordenadas e desmedidas, possam ter provocado na vida do outro.
Por vezes, precisamos quebrar nossas barreiras interiores e realizarmos um
grande esforço ao dizer: “Eu estava errado, perdoe-me!”, pois este esforço fará
sua vida muito melhor, mesmo que o outro não aceite, de imediato, seu pedido,
mas sua vida já foi mudada a partir deste gesto.
Pense nisto: Para quem você gostaria de pedir perdão hoje?
Elaine
Ribeiro, Canção Nova