domingo, 2 de setembro de 2012

#FicaAdica 30



Misericórdia nada mais é do que colocar nosso coração sobre as misérias das pessoas e proporcionar encontros transformadores. É ter a capacidade de reclinar diante da dor, do sofrimento e da cruz de cada pessoa. Misericórdia é investir o nosso melhor no pior dos outros para que sejam erguidos, levantados, colocados de pé outra vez.

Uma vida digna é uma vida marcada pelo amor, pela união, pela compaixão, pela misericórdia, pela adesão aos projetos de vida que vem de Deus. Quando fazemos opção pela VIDA, nossa vida se coloca numa dimensão divina: temos necessidade de acolher, de perdoar, de colocar nossa vida a serviço. Procure, pois, colocar amor em suas ações e terás a experiência divina da misericórdia!

Frei Paulo Sérgio OFM

Liturgia Dominical


“É de dentro do coração humano que saem as más intenções, imoralidades, roubos, assassínios, adultérios, ambições desmedidas, maldades, fraudes, devassidão, inveja, calúnia, orgulho, falta de juízo. Todas estas coisas más saem de dentro, e são elas que tornam impuro o homem” (Mt 7,21-23)

O evangelho nos regala com um dos trechos mais significativos de Marcos: a discussão sobre o que é impuro  (Mc  7, 1-23). Os discípulos se puseram a comer sem lavar as mãos. Mas lá estavam alguns vizinhos piedosos, da irmandade dos fariseus, acompanhados de professores de teologia (escribas), vindos da capital, de Jerusalém. Logo se intrometeram, dizendo que é proibido comer sem lavar as mãos (como também se deviam lavar as coisas que se comprava no mercado, os pratos e tigelas, e tudo o mais). Mas Jesus acha tudo isso exagerado, sobretudo porque dão a isso um valor sagrado.

Na realidade, a piedade de  Israel era relativamente simples. Religião complicada era a dos pagãos, que viviam oferecendo sacrifícios e queimando perfumes para seus deuses, cada vez que desejavam alguma coisa ou queriam evitar um castigo.  Mas a religião de Israel era sóbria, pois só conhecia um único Deus e Senhor.  Consistia em observar o sábado, oferecer uns poucos sacrifícios, pagar o dízimo, e sobretudo, praticar a lealdade (amor e justiça) para com o próximo.  Moisés já tinha dito que não deviam acrescentar  nada a essas regras simples, admiradas pelos outros povos (1ª. leitura).  E Tiago  – o mais judeu dos autores do Novo Testamento -  diz claramente:  “Religião pura e sem mancha diante de Deus e Pai é esta: assistir os órfãos e as viúvas em suas dificuldades e guardar-se da corrupção do mundo” (Tg 1,27;  2ª. leitura).

Mas, no tempo de Jesus, os ”mestres da Lei”  tinham perdido esse  sentido de simplicidade. Complicaram a religião com observância que originalmente se destinavam aos sacerdotes. Clericalizavam a vida dos leigos.  Queriam ser mais santos que o Papa!  Chegavam a dizer que era mais importante fazer uma doação ao templo do que ajudar com esse dinheiro os velhos pais necessitados.  Inversão total das coisas. Ajudar o pai e a mãe é um dos Dez Mandamentos…. Declaravam também impuras um montão de coisas. No templo, tudo bem, o bezerro ou o cordeirinho a serem oferecidos têm que ser bonitos, puros, sem defeito.  Mas  no dia-a-dia, come o que tem e do jeito como pode.  Sobretudo, a gente pobre, os migrantes, como eram os amigos de Jesus. Contra todas essas invenções piedosas, Jesus se  inflama. Não é aquilo que entra na gente  – e que é evacuado no devido lugar  – que torna impuro, mas a malícia que sai de sua boca e de seu coração (Mc 7, 18-23).

Jesus quis sempre ensinar o que  Deus quer. A  Lei era uma maneira para “sintonizar” com a vontade de Deus.  E Jesus respeita a Lei, melhorando-a para torná-la  mais de acordo  com a vontade de Deus, que é o verdadeiro bem do ser humano. Isso é o essencial. O demais deverá estar a serviço do verdadeiro bem da gente e não o impedir.  A verdadeira sintonia com Deus, a verdadeira piedade é o amor a Deus e a seus filhos e filhas.  Práticas piedosas que atravancam  isso são doentias e/ou hipócritas.

Johan  Konings, S.J., www.franciscanos.org.br