“Lança a foice
e colhe os cachos da videira da terra,
porque as uvas
já estão maduras.”
Estamos
para terminar o ano litúrgico e chegam aos nossos ouvidos as leituras da Missa
que nos colocam diante das coisas dos últimos tempos. O tempo da
consumação está próximo.
Cada um de nós
tem sua história e sua trajetória mais ou menos longa. Há aqueles,
é bem verdade, que morrem cedo por muitos motivos: uma doença
incurável, um acidente, um assassinato. Há aqueles que passam
muitos anos vivendo na terra dos homens. Os muitos anos vividos, por eles
mesmos, não dizem que as pessoas estejam mais maduras, ou seja, mais
santas. Há aqueles que morrem na juventude e já estão preparados para
serem colhidos. O Apocalipse fala de uvas maduras, de existências que
estão preparadas para serem levadas para a sala de festas da glória na
eternidade.
Há vidas
muito simples. Nada de feitos extraordinários. Uma mulher esposa e mãe:
trabalhos, preocupações, controle do dinheiro a ser gasto e a ser economizado,
o perdão concedido a uma sogra intransigente e má, o carinho para com os
seus, para que sua casa fosse sólida e não venha a faltar agasalho e alegria
para todos…. Vida bela ao longo do tempo da existência, mas sem nada de extraordinário.
Uva madura para ser colhida.
Há esse
médico batalhador. Tem consultório particular e plantões num posto de
saúde. Atende carinhosamente tanto aqui quanto ali. Sofre enquanto
não consegue restituir a saúde aos doentes.
Há essa
religiosa já idosa, mulher que fora responsável por belos e grandes
trabalhos de pastoral da saúde numa diocese. Hoje, suas pernas não permitem que
ela faça “estripulias” pastorais. Levanta-se cedo, passa meia hora na capela,
reza com as irmãs, depois ajuda na cozinha a descascar legumes e a preparar
doce de abóbora com coco, enquanto se dá ao exercício de caminhar na presença
de Deus. As uvas da parreira de sua vida já estão maduras.
Mas nem tudo é
assim. O Apocalipse fala de um anjo que ceifa a vida dos que não foram
santos. “E o anjo lançou a foice afiada na terra e colheu as uvas da
videira da terra. Depois, despejou as uvas no grande lagar do furor de
Deus”.
Frei Almir Ribeiro Guimarães