quinta-feira, 4 de julho de 2013

Apertos do coração de um pai



Algum tempo depois de episódio de Moriá, Abraão poderia escrever uma carta a Isaac mais ou menos nestes termos:

Bem, querido filho Isaac! Quantas recordações, quantas lembranças.  Ah! Aquele dia… De imediato não compreendi o que estava acontecendo. Não podia e não queria entender. A voz me pedia que eu fosse contigo até o Monte Moriá e lá que eu te oferecesse em sacrifício, o meu filho, o filho da promessa, o filho da minha velhice e da velhice de Sara. Eu não podia, não queria acreditar. Não era possível que o Deus que me havia tornado pai quisesse te arrancar de mim… Mas contive minha resistência. Procurei não mostrar minha estranheza… Apresentei-me corajoso ao Senhor diante daquela incompreensível solicitação… Sacrificar meu filho único, o meu Isaac.

Não sei se te recordas dos pormenores… Penso que não. Mas talvez sim. De manhã bem cedo  arrumamos tudo o que era preciso  para  o  “sacrifício” de meu filho… tu serias oferecido… Caminhamos três dias, eu, tu e os dois servos… Tive muito tempo para pensar… Imagina… Não tinha condições de dormir… No terceiro dia de caminhada  vi ao longe o lugar.  Não queria que os empregados fossem conosco.  “Esperai aqui com o jumento, enquanto eu e o menino vamos lá.  Depois de adorarmos a Deus, voltaremos a vós”.

Tomei a lenha, o fogo… E a faca. Tu te voltaste para mim e me fizeste uma terrível pergunta.  Nunca esquecerei o tom ingênuo e inocente de tua voz: “Temos fogo e lenha, mas onde está a vítima para o holocausto?”  Deixei que tua pergunta parasse no ar. Levantei os olhos. Respirei fundo.  Respondi. Será que com toda convicção ou simplesmente para te responder?  “Deus providenciará a vítima para o holocausto, meu filho”. E tu te calaste. E continuamos a caminhar.

Chegara então o momento mais delicado. Ergui o altar, coloquei a lenha… e tive que te amarrar como amarramos os cordeiros para os sacrifícios. Meu Deus!  Quanta dor… e teu rosto franzido e teu  choro me penetraram  até  às dobras de meu interior.  Estive no limite do desespero.

Ergui a mão… E ali compreendi toda a trama daquele evento. Estava certo que Deus não podia ter querido que eu te matasse.  Ele queria provar até onde ia minha fidelidade. Como nada recusei ao Senhor, ele  me proibiu de erguer a mão contra a obra prima de seu amor que era tu, meu Isaac.

Naquele momento fiquei sabendo que estávamos sendo abençoados. Não esqueço as palavras do Senhor:  “Juro por mim mesmo, uma vez que agiste deste modo e não me recusaste  teu filho único, eu te  abençoarei e tornarei tão numerosa tua descendência como as estrelas do céu e as areias da praia do mar”. Graças e mais graças ao Altíssimo.

Isaac, tu és meu querido filho e um sonho de Deus.

Frei Almir Ribeiro Guimarães
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