domingo, 29 de julho de 2012

O pão de tantas mesas

Neste domingo lemos o evangelho da multiplicação dos pães na versão do quarto evangelista.  Pessoas com fome, deserto, falta de comida, proximidade da Páscoa, pão que mata a fome do corpo, falta de pão de um lado, depois fartura,  pão que mata a fome do corpo e uma outra fome… quanta beleza e  quanta riqueza nesse episódio.  Pensamos em tantas mesas, em tantos milagres,  na singeleza encantadora e nos mistérios de tantas mesas.

Há pessoas que passam fome, que reviram latas de lixo, que  nunca comem à saciedade. Há essas multidões famintas que, por vezes, são atendidas por planos sociais e projetos assistenciais sérios.  Há esses indigentes sempre pedindo esmola aqui e alhures. Há, de outro lado, tantos obesos que comem demais.

Aos domingos, a mãe da presidiária vai fazer-lhe a habitual visita.  Todos os domingos. A filha aguarda  todas as semanas a visita de carinho  quando a mãe traz coxinhas de galinha e sorvete de creme. E as duas comem juntas num canto do presídio, a festa da mesa, a festa do carinho enquanto se come.

Há essa mesa de gente simples, de pai e mãe que trabalham, que aos domingos  reúnem a família toda para o almoço.  A mãe prepara a comida, a filha mais velha, balconista numa loja do bairro, faz  a salada. A vizinha  que mora sozinha vem também para esse momento de partilha. Ela traz sempre a sobremesa.   As pessoas se sentam em torno à mesa. Há a alegria  das coisas simples: as pessoas falam, abrem o coração, fazem uma prece para começar e enquanto a mesa dos alimentos nutre o corpo, a convivência amorosa alimenta a vida íntima de cada um, em torno à mesa.

Penso aqui na grande e bela mesa da festa da senhora que completa noventa e cinco anos. Esposa, mãe, avó, bisavó, professora,  colaboradora fiel das atividades da paróquia.  Chegam uns e outros, trazem seu sorriso, um presente simples. Há abraços, uns poucos discursos e depois em torno da imensa mesa com  toalha branca com flores amarelas e  lilás. E  esta refeição feita toda de alegria, de agradecimento e de júbilo.

Por sobre uma outra mesa, uma mesa com uma bela toalha branca,  estão uma patena e uma cálice, pão e  vinho. Um sacerdote  olha para os céus,  pede que o Espírito desça sobre esses alimentos e  o pão e o vinho se tornam  pão da vida e bebida espiritual. Multiplicando-se aos olhos de todos.

“Recolheram os pedaços  e encheram doze cestos com as sobras dos cinco pães”


Frei Almir Ribeiro Guimarães, no site www.franciscanos.org.br

A verdadeira paz

Certa vez houve um concurso de pintura e o primeiro lugar seria dado ao quadro que melhor representasse a paz.

Ficaram, dentre muitos, três finalistas igualmente empatados.

O primeiro retratava uma imensa pastagem com lindas flores e borboletas que bailavam no ar, acariciadas por uma brisa suave.

O segundo mostrava pássaros a voar sob nuvens brancas como a neve em meio ao azul anil do céu.

O terceiro mostrava um grande rochedo sendo açoitado pela violência das ondas do mar em meio a uma tempestade estrondosa e cheia de relâmpagos.

Mas para surpresa e espanto dos finalistas, o escolhido foi o terceiro quadro, o que retratava a violência das ondas contra o rochedo.

Indignados, os dois pintores que não foram escolhidos, questionaram o juiz que deu o voto de desempate: - Como este quadro tão violento pode representar a paz, Sr. Juiz?

E o juiz, com uma serenidade muito grande no olhar, disse: - Vocês repararam que em meio à violência das ondas e à tempestade há, numa das fendas do rochedo, um passarinho com seus filhotes dormindo tranquilamente?

E os pintores sem entender responderam: - Sim, mas...

Antes que eles concluíssem a frase, o juiz ponderou: - Caros amigos, a verdadeira paz é aquela que mesmo nos momentos mais difíceis nos permite repousar tranquilos.

Talvez muitas pessoas não consigam entender como pode reinar a paz em meio à tempestade, mas não é tão difícil de entender.

Considerando que a paz é um estado de espírito podemos concluir que, se a consciência está tranquila, tudo à volta pode estar em revolução que conseguiremos manter nossa serenidade.

Fazendo uma comparação com o quadro vencedor, poderíamos dizer que o ninho do pássaro que repousava serenamente com seus filhotes, representa a nossa consciência.

A consciência é um refúgio seguro, quando nada tem que nos reprove. E também pode acontecer o contrário: tudo à volta pode estar tranquilo e nossa consciência arder em chamas.

A consciência, portanto, é um tribunal implacável, do qual não conseguiremos fugir, porque está em nós.

É ela que nos dará possibilidades de permanecer em harmonia íntima, mesmo que tudo à volta ameace desmoronar, ou acuse sinais de perigo solicitando correção.

Sendo assim, concluiremos que a paz não será implantada por decretos nem por ordens exteriores, mas será conquista individual de cada criatura, portas à dentro da sua intimidade.



Do Livro “Sabedoria em Parábolas”, Prof. Felipe Aquino