segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Ser generoso

Os nossos critérios de ação devem ultrapassar a realidade unicamente humana. Na origem das atitudes há os dados da ética e da moral, mas também as questões divinas que estão relacionadas com as questões da fé.

Ser generoso não é simplesmente ser justo, mas atender as necessidades de quem está em jogo. Não é fato apenas de merecimento e de justiça, mas de solidariedade e de partilha de forma fraterna, para que todos tenham vida digna.

O mundo é como um terreno onde se planta de tudo. É daí que tiramos os alimentos. Mas todos devem trabalhar uns mais e outros menos, dependendo das condições de cada pessoa. Os frutos são para sustento da coletividade e de forma solidária.

Para o trabalho, há pessoas que chegam cedo, outras trabalham menos, mas ambos têm necessidade de vida e de alimento. Na partilha, ninguém pode ser injustiçado, mesmo que alguém receba além do que é justo por não ter trabalhado o tempo todo.

Jesus conta a parábola do patrão que combinou o salário do dia com um trabalhador. Outros foram chegando ao transcorrer do dia, havendo até quem chegasse ao final da tarde. A ambos o patrão pagou o mesmo valor. Ele agiu com justiça e com generosidade.

No mundo capitalista as atitudes são diferentes, mesmo sabendo da existência de quem partilha com os trabalhadores os lucros da empresa. No mundo de Deus, a ternura e a generosidade ultrapassam as nossas, a lógica é diferente do que fazemos.

A prática da vida cristã deve ser a do amor, com capacidade de doação maior do que aquilo que merecemos. É a misericórdia, a paciência, a compaixão, a bondade e a justiça, tendo como objetivo viver bem, tendo uma vida que faça sentido.

Para Deus, a partilha não é matemática e nem mesquinha, porque Ele olha a necessidade da pessoa. A sua bondade ultrapassa os critérios humanos e seus dons são sem medida. O que importa não é o que fazemos, mas a forma como fazemos as coisas.

Dom Paulo Mendes Peixoto, Bispo de São José do Rio Preto – SP

Leitura Bíblica: Mateus 1,1-17


“... Jacó gerou José, o esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, que é chamado o Cristo. Assim, as gerações desde Abraão até Davi são catorze; de Davi até o exílio na Babilônia catorze; e do exílio na Babilônia até Cristo, catorze”  (Mt 1,16-17)

É natural que muita gente fique entediada diante da longa lista de nomes estranhos, quase ridículos, geração após geração, desde o patriarca Abraão até o justo José, esposo de Maria. Mas não foi por acaso que o evangelista Mateus abriu desta forma o seu livro inspirado. Nem é por acaso que a liturgia do Advento – já tão próximo o Natal! – traz a mesma passagem para nossa reflexão.

Há um objetivo claro na escolha deste Evangelho: mostrar de modo cabal que a “encarnação do Verbo” não é história da carochinha, mas um evento cravado firmemente na história dos homens. A mesma humanidade frágil e inconstante com quem o Senhor paciente tentara, em vão, seguidas alianças.

Com Noé, após o dilúvio, Deus experimenta aliar-se a toda a humanidade sobrevivente. Quando a noiva se mostra infiel, Deus renova sua aliança com Abraão, separando um povo de todo gênero humano, seu povo de predileção. Insistindo o povo em suas idolatrias, Yahweh separa uma tribo entre as doze, a tribo de Davi, a quem prometeu construir uma “casa”, isto é, dar-lhe uma linhagem ou descendência. Dela nasceria o Salvador, o Ungido de Deus.

A leitura - ainda que monótona – de tantas gerações vem comprovar que Deus cumpriu suas promessas. Deus é fiel. É com José (da tribo de Davi, do povo de Abraão, da raça de Noé!) que se casa a Virgem Maria. Pai putativo de Jesus, resumindo em sua pessoa as três alianças, José permite que o Salvador seja enxertado no gênero humano, agindo por nós a sua justiça. Deus, agora, é da nossa raça.

E que raça! A raça de Jacó, o trapaceiro. A raça de Raab, a prostituta. A raça de Rute, a estrangeira, a que não era povo. A raça de Davi e Betsabé, os adúlteros. A raça de Acaz, o idólatra. Uma raça de pecadores. Uma raça decaída. E assim fica bem claro que o Filho de Deus se faz solidário conosco, assumindo sobre si os nossos pecados. Humanizando-se, ele nos regenera e santifica, inaugurando para nós uma vida de plena comunhão com Deus.

Hoje, nós somos o novo Israel. Cada um de nós é chamado a encarnar nesta camada do tempo a mesma Aliança realizada em Cristo. O Natal que se aproxima atrai nosso olhar para o presépio. Ali – Deus e homem – Jesus revela que o Pai nos ama. Somos filhos. Renascemos para o amor...

Orai sem cessar: “O Senhor se lembra eternamente de sua aliança, da palavra que empenhou a mil gerações!” (Sl 105,8)

Antônio Carlos Santini, Comunidade Católica Nova Aliança.