Cortar
uma árvore é uma atitude radical. O dono da vinha parece violento. Parece que
se cansou da esperança. Como conciliar esta parábola com a noção de um Deus
misericordioso ao infinito?
Joachim Jeremias, exegeta alemão, nos ajuda a compreendê-la em seu contexto
original. Começa por lembrar que a figueira faz sombra sobre a parreira,
impedindo que as uvas amadureçam. Logo, o dono da vinha devia gostar muito de
figos, do contrário não teria plantado a figueira.
Além disso, já esperava por frutos há muito tempo. Segundo a lei do Levítico
(19,23ss), os frutos produzidos pela árvore nova nas três primeiras colheitas
eram considerados “incircuncisos” ou impróprios para a alimentação. No quarto
ano, os frutos colhidos eram oferecidos a Deus como primícias do pomar, em um
gesto cultual: “Deus primeiro!” Só a partir do quinto ano é que o produto das
frutíferas podia ser colhido como alimento humano.
Ora, já havia três anos que o dono da terra procurava por figos e não os
achava. Façamos a soma: 3 + 1 + 3 = 7!!! São sete anos de esterilidade! Sete
anos de decepção. E no mundo bíblico o número 7 significa a plenitude, a
totalidade, isto é, todo o tempo...
Agora, fica mais fácil entender a mensagem desta parábola: TODO O TEMPO, Deus
espera por nós e pelos frutos do Espírito em nossa vida. Mas esse tempo há de
acabar, é limitado, tem um fim. Chegado o fim, não haverá outro recurso a não
ser cortar a figueira...
Assim sendo, não podemos acusar a Deus – representado na figura do dono da
vinha – de impaciente ou sem misericórdia. Ao contrário, nada mais justo que
esperar pelos frutos de seu “investimento” em nossa vida. Em Isaías 5, o
profeta nos dá o “canto de amor” a respeito da vinha (Israel), que se recusara
a dar frutos: depois de cavar a terra, limpá-la das pedras e plantar cepas
escolhidas, o “dono” ainda a cercou, ergueu uma torre e construiu um lagar,
pois esperava fabricar o seu vinho. No tempo da colheita, a uva não prestava,
só dava vinagre. Que fazer?
Sua cerca será arrancada e os javalis a pisarão. Ali crescerão apenas cardos e
espinhos. Nem mesmo a chuva há de regá-la... A vinha predileta não
correspondera ao amor...
E nós? Estamos correspondendo ao Amor que foi investido em nós?
Antônio
Carlos Santini, Comunidade Católica Nova Aliança.